quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Have a nice dick


O spam que se recebe no email é um excelente sinal do estado moral e económico de uma sociedade. Pelo menos da americana, de onde vem quase todo.

Sempre gostei de ler o subject destes emails. Do clássico “Enlarge your penis” às variantes mais criativas como o alegórico “put a rocket in your pocket”, o enganador "fantastic growth" ou o subtil “thrust your woman”, a maioria do spam apresenta soluções rápidas, quase gratuitas e completamente milagrosas para todos os tipos de disfunção sexual, capazes de dar ao membro viril, de um dia para o outro, aquele tamanho tipo estrela porno que todo o homem ambiciona.

De há cerca de um mês para cá, tudo mudou. Agora, tudo o que vai parar ao caixote de lixo do correio electrónico tem títulos como “debt help?”, “tips to get out of debt”, “bad credit debt consolidation loan” ou “debt solutions”.

Os americanos estão a trocar a insegurança sexual pela insegurança financeira. Não serão só eles. Quando se ouve falar dos níveis de endividamento das famílias portuguesas, podemos ter a certeza que há por aí muita disfunção, não forçosamente eréctil, por resolver.
Mas primeiro, os pagamentos do BMW, da casa, do plasma e das férias do ano passado.

Ver a obsessão com o desempenho sexual dar lugar a uma obsessão com o desempenho financeiro é um indicador exacto do estado da economia.

Os títulos do email é que perderam a graça.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Vêm aí os russos



Ou, como dizem os russos, vêm aí os americanos.

Encorajada pela perspectiva de se tornar um estado membro da Nato e pelas promessas de amizade eterna dos americanos, a Geórgia atacou a república secessionista da Ossétia do sul (uma espécie de Kosovo caucasiano).
A Rússia, que já tinha avisado os georgianos que não deviam tentar retomar a região pela força, respondeu com uma força maior, ao bom velho estilo soviético.
As potências ocidentais, as mesmas que aprovaram a intervenção no Kosovo contra a Sérvia (uma espécie de Geórgia balcânica) e a posterior independência do território à revelia da lei internacional, exigem que a Rússia abandone de imediato o solo sagrado da Geórgia.

Os russos não ligam, porque a Rússia não é propriamente a Sérvia ou o Iraque, tem tantas armas nucleares como antigamente, está de novo com dinheiro e está farta de ver os Estados Unidos a mordiscar as suas antigas zonas de influência.

O governo americano sempre soube fazer aliados dos países que derrota, como a Alemanha ou o Japão. Mas peca por um certo revanchismo em relação àqueles que lhe fazem frente. Basta comparar a hostilidade em relação ao fundamentalista Irão com a amizade pela muito mais fundamentalista Arábia Saudita, ou o tratamento reservado à comunista Cuba com o dispensado à muito mais sinistra China comunista.

Quando aconteceu o descalabro da União Soviética, em vez de verem uma oportunidade de ganhar um aliado pensaram em maneiras de o humilhar. Bases na Ásia Central, entrada da Europa oriental na Nato, convites à adesão da Ucrânia e Geórgia, reconhecimento da independência do Kosovo e, em cima de tudo, a instalação de mísseis antibalísticos na Polónia e sistemas de radar na Chéquia.

Instalados a mais de 2000 km do Irão, para combater a ameaça imaginária de um país que só tem mísseis com pouco mais de 1.000 km de alcance, estes novos sistemas de armas são um novo e enorme sapo que os russos se recusam a engolir. Ou qual seria a reacção dos americanos se os russos instalassem um sistema semelhante na Venezuela (para se defenderem, sei lá, da Coreia do Norte)?

Com a criação desta nova Crise dos Mísseis, Bush conseguiu criar uma nova clivagem entre os russos e europeus, um dos interesses estratégicos fundamentais dos Estados Unidos.
Mas conseguiu também o que parecia impossível uns anos atrás: trouxe de volta a guerra fria entre os dois únicos países do mundo com capacidade para exterminarem toda a civilização humana.

Ao contrário do Presidente Kennedy, no entanto, que acedeu a retirar os misseís balísticos que os Estados Unidos tinham instalado na Turquia em troca da retirada dos mísseis que os soviéticos estavam a instalar em Cuba (uma grande vitória da democracia, pelo menos para consumo público), o Presidente Bush já demonstrou que está muito longe de ser uma pessoa razoável.

E as eleições de Novembro que nunca mais chegam.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Água em Marte


Espaço 1999. Os computadores ainda são do tamanho de armários mas há uma base permanente na Lua, autosuficiente e visitada regularmente pelos icónicos Eagles, uma das naves de desenho melhor concebido da história da ficção científica.

2001 - Odisseia no espaço. Pessoas voam para uma estação orbital em vaivéns espaçosos e confortáveis, com hospedeiras de bordo e tudo. Ou talvez já fossem Assistentes de Voo. A estação tem gravidade artificial. O único som que se ouve no espaço é o Danúbio Azul. Também há bases lunares. A inteligência artificial é uma realidade. O Homem chega às luas de Júpiter e descobre que não está sozinho.

2008. Uma Bimbi com rodas chamada Phoenix Lander recolhe um pouco de solo marciano com uma pá escavadora, aquece-o no seu interior e *ping* está confirmado que há mesmo água em Marte.

Perdoem-me se não salto de entusiasmo. 
A confirmação de uma coisa que já se sabe há anos, programada para ocorrer ao mesmo tempo que se comemora os 50 anos da NASA, está muito longe de onde a corrida ao espaço deveria estar em 2008. Quem viu o filme 2001, quem seguiu a série Espaço 1999, esperava mais, esperava melhor e tinha a certeza que ia ser mais cedo. 

Para uma criança nos anos 70, era inconcebível que em 2008 ainda não houvesse carros voadores, robôs inteligentes, pistolas de raios ou uma simples pegada humana em Marte. 

O ano 2001 encerrava uma promessa quase mágica para um adepto da ficção científca. O milénio não era o fim do mundo, era um mundo novo. Agora que a data passou, com um bocejo, tudo o que temos para mostrar como triunfo do engenho humano são sondas não tripuladas.

Em 2008, a ida de humanos a Marte, ou mesmo o regresso de pessoas à Lua, continua distante, e o  único livro/filme de ficção que parece cada vez mais próximo de se tornar realidade é uma data mais antiga, mil novecentos e oitenta e quatro

Por estes dias, ficava mais entusiasmado se a NASA desencantasse água no Darfur. Não só resolvia a causa fundamental do conflito como saía muito mais barato. E, como é pertinho, talvez até conseguissem enviar um ser humano.