quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Morte por panfleto


Dia 23 de Junho, uma rapariga afegã foi o primeiro habitante da conturbada província de Helmand a sentir todo o peso da mais recente campanha de lançamento de panfletos da Nato.
A moça ia a caminho de Al-Merdaleja de Baixo quando um monte de folhetos lhe caiu em cima, lançado de grande altitude por um avião da RAF. O poder da palavra escrita e a força da gravidade, juntos enfim na guerra contra o terror.

Como as forças da Nato não sabiam que tinham alvejado mais um civil, a rapariga foi levada para o hospital local, onde as hipóteses de sobrevivência não eram (e não foram) as melhores. É interessante descobrir que para receber tratamento médico adequado no Afeganistão, é preciso ser identificado primeiro como dano colateral.

Ao menos toda a gente na região ficou a saber que se tem de preocupar tanto com as minas como com os panfletos que os alertam para o perigo das mesmas.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Assim, se vê, a força do ballet



"Mulheres do Destacamento Vermelho", um bailado de inspiração obviamente comuna, encenado a propósito da celebração dos 60 anos do regime. Aguardam-se mais imagens de rara beleza e coordenação motora para esta quinta feira.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cambada de jingoístas



Quando toda a gente que vai à guerra é um herói, ninguém é. Farto de ver qualquer tipo que esteve perto de uma zona de combate ser automaticamente considerado como um herói. Antigamente, era necessário fazer qualquer coisa de notável, fosse pelo espírito de sacrifício, fosse pela inconsciência.

Agora, basta estar lá, que as máquinas de propaganda fazem o resto. Por um lado exaltam a coragem e o sacrifício de combater no Afeganistão sem chuveiros aquecidos (já vi, na TV). Pelo outro, demonizam o inimigo e relativizam o seu sofrimento, explorando aquele bom e velho sentimento do "aquela gente já está habituada, não sentem as coisas como nós".

Tarde demais?


De visita à Chéquia, uma das nações menos religiosas do mundo (50% não acredita em Deus de todo e apenas 30% dizem praticar alguma forma de religião) o Papa alertou o mundo para o perigo de viver numa sociedade sem Deus.
E qual é o perigo? É que as pessoas percebam que não precisam de Deus para serem morais, espirituais e perfeitamente felizes.

Medo. Ou não



O presidente mais simpático e consistente de todos os tempos. Ou o mais robótico e calculista.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Tiros no pé


Netanyahu defendeu a veracidade histórica do Holocausto nas Nações Unidas, mostrando provas e tudo. Não contente por mostrar ao mundo que sente necessidade de provar o inquestionável, estabeleceu ainda um paralelo entre o Hamas e os nazis, fazendo todas as pessoas normais pensar no assunto e chegar à conclusão que, a haver um paralelismo, seria sempre com o poderoso exército ocupante do estado de Israel.

Comparar os primitivos foguetes Qassam do Hamas (que mataram um total de 18 pessoas em 8 anos) com a poderosa Luftwaffe (que provocou mais de 40,000 mortos e destruiu mais de 1 milhão de casas durante o blitz) tem o mesmo efeito.

E é tão ridículo que não transforma o Hamas num monstro. Quando muito, faz os monstruosos nazis parecerem patuscos.

Guerra assimétrica



Morreram mais 5 americanos no Afeganistão, um total de 34 só em Setembro. O general McChrystal, comandante no terreno, pediu mais 40 000 homens para que a situação não fique fora de controlo, de vez.

Esta foto é uma boa representação das diferenças tecnológicas entre afegãos e as forças da Nato. Olhando para ela, no entanto, dá a sensação que é o camião que está a fugir do velhote no seu burro.

Depois do Império Briânico, da União Soviética, de Alexandre Magno e de outros invasores menos ilustres, parece que os eternos tomba-gigantes da Ásia central estão prestes a fazer mais uma vítima notável. Não por terem mais capacidade militar mas porque são burros teimosos e as potências invasoras, mais cedo ou mais tarde, dão pela sua determinação a entrar na reserva.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A melhor notícia do milénio, para já (ou não)


O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou unanimemente uma resolução com o objectivo final de livrar o mundo de armas nucleares.

Com o apoio dos Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França (todas as potências nucleares tradicionais), a resolução poderá levar a um mundo livre de armas nucleares, um mundo melhor no qual as resoluções da ONU servem para qualquer coisa. Mas adiante.

Ao combinarem abolir os seus arsenais, as potências nucleares estão a abdicar voluntariamente do seu poder de matar toda a gente no planeta se forem contrariadas. Os ingleses e franceses, em particular, nem sequer continuarão a ter uma razão legítima para serem membros permanentes do Conselho de Segurança em vez de nações como a Índia ou o Brasil.

É lindo. No entanto, como nunca vi um país abraçar voluntariamente a irrelevância, fico com a sensação que o principal objectivo é evitar que mais alguém se junte ao clube, criando uma base legal forte e consensual para agir rapidamente contra novos candidatos, reais ou imaginados.

Afinal, para que é que outros países (Irão) querem bombas se os que têm agora vão deixar de as ter, brevemente (mais década menos década)?

E, já agora, como é que a resolução se aplica a estados (Israel) com arsenais nucleares mas que nem para salvar a mãe de morte lenta eram capazes de confirmar ou desmentir que os têm?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Olha, uma mudança


A assembleia geral da IAEA aprovou uma resolução (não vinculativa, claro) que apela a que o estado de Israel assine o Tratado de Não Proliferação Nuclear, ratificado já por quase todos os países do mundo com e sem armas nucleares (Irão incluído).

A resolução passou com 49 votos a favor, 45 contra e 19 abstenções. Parece que muitos países do chamado Terceiro Mundo se cansaram da política de dois pesos e duas medidas do ocidente. Ou talvez não tenham recebido contrapartidas económicas suficientes para continuarem a vender o seu voto pela melhor oferta das suas antigas potências coloniais. É a crise.

Há 18 anos que Israel, os Estados Unidos e os restantes países ocidentais bloqueavam a passagem desta resolução sem dentes, não fossem os israelitas serem obrigados a reconhecer publicamente que são a única potência nuclear do Médio Oriente, com um arsenal de mais de 200 armas.

Não muda nada, mas sempre é uma mudança. E para menos mal muda-se sempre.

Conhecer o Ronaldo é fixe mas eu queria era o médico dele


Nada como o The Onion para colocar as visitas de celebridades às criancinhas doentes do hospital em perspectiva.

Israel 1 - Obama 0

Obama decidiu, discretamente, deixar de insistir no congelamento de novas construções nos colonatos israelitas da Cisjordânia.

O ministro dos negócios estrangeiros israelita foi menos discreto, anunciando a reunião de Netanyahu em Nova Iorque com Obama e um muito desapontado Mahmoud Abbas como um grande triunfo diplomático (pelo simples facto de ter ocorrido), que veio demonstrar que Israel em geral, e este governo em particular, não cede a pressões externas nem para fazer o que devia.

O presidente da mudança já percebeu, como todos os presidentes desde Carter, que há uma coisa que nunca muda na política americana para o Médio Oriente: pode-se fazer tudo menos contrariar Israel.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Boas notícias


O governo sul-africano anunciou que o número de assassinatos na África do Sul desceu 3.4% este ano: entre Abril de 2008 e Março de 2009 foram mortas apenas 18,148 pessoas.

Num país de quase 50 milhões de habitantes, são cerca de 5o homicídios por dia, ou 4 guerras do Iraque por ano, todos os anos.

Quem tem facebook tem tudo


Já viram aqueles filmes em que o KGB ou a CIA ou a Mossad apanham um tipo qualquer e o torturam para saber onde ele vive, quem são os seus amigos, quais são as suas actividades, onde é que esteve na semana passada, o que vai fazer nessa noite, quem são os seus associados ou que interesses é que ele tem.

É impressão minha ou agora temos isso tudo disponível online?

Dantes, torturava-se para obter informação. Agora, basta ir ao Facebook, ao hi5, seguir todos os rastos digitais que vamos deixando, um pouco por todo o lado.
Nem em mil novecentos e oitenta e quatro os governos sonhavam com tantas facilidades.

Torturar agora só mesmo por diversão (há quem goste de o fazer), dissuasão (há quem tenha medo que lhe façam) ou em certas populações offline, como os afegãos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Guerra Fria acabou, outra vez


O Presidente Obama informou os governos europeus de leste que os Estados Unidos vão desistir da instalação de uma cobertura anti-míssil na Polónia e Chéquia.

Segundo Bush, esta rede de mísseis protegeria a Europa de um ataque nuclear ou coisa do género vindo do Irão. Como nenhum míssil iraniano (passado, presente e, provavelmente, futuro) chega sequer aos Balcãs, ninguém soube explicar muito bem o que é que os mísseis estavam a fazer na Polónia e os radares na Chéquia: se o perigo era o Irão, não deviam ser instalados assim na Turquia ou coisa do género?

A Rússia sabia muito bem quem é que a cobertura anti-míssil servia para manter na ordem. Agora, depois de anos de arrefecimento de relações, as coisas parece que vão voltar a aquecer (de uma maneira boa).

Obama revela alguma coragem política, visto que não se safa de ser acusado pelos republicanos de capitular perante a Rússia de Putin, etc. Claro que estes, ao fazê-lo estão apenas a confirmar o que os russos sempre disseram.

Se calhar é desta que a Guerra Fria acaba de vez.


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O dia em que o mundo se convenceu que nada voltaria a ser o mesmo


Faz hoje 8 anos que o mundo deu uma volta de 360º. É por isso que o que não está um pouco pior está exactamente na mesma.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

5 milhões de escoceses respiraram de alívio



Em Kuala Lumpur, capital da malásia, há um pequeno restaurante de comida indiana chamado McCurry. Segundo os proprietários, o nome é uma abreviatura de "Malaysian Chicken Curry", um prato malaio típico.
Mas segundo a McDonald's, o nome é uma violação flagrante da sua marca registada, apesar da única semelhança ser mesmo o Mc. Depois de 8 anos de batalhas legais, o Supremo Tribunal da Malásia deu finalmente razão ao pequeno estabelecimento.
A vitória improvável do pequeno restaurante malaio sobre uma das maiores corporações do planeta anda a despertar o lado bíblico das pessoas, com comparações à fábula de David contra Golias.
Apesar de reconhecer que a McDonald's tem razão muitas vezes nos processos legais que inicia, não é preciso ser do Bloco de Esquerda para apreciar o facto de que uma das maiores corporações do mundo tentou, durante 8 longos anos, fechar um pequeno negócio familiar. E perdeu.

I'm lovin' it®.

mil novecentos e oitenta e quatro, 25 anos depois


Sou eu ou chamar "crescimento natural" à construção de novos colonatos, "técnicas de interrogação avançadas" a tortura, "danos colaterais" à morte de civis, "força de manutenção da paz" a um exército de ocupação, etc, parece-se muito com newspeak?

A democracia, enfim


Confrontada com provas crescentes de fraude eleitoral em grande escala, a comissão eleitoral afegã decidiu, este domingo, tomar medidas para que os votos irregulares não fossem contabilizados.
Segunda-feira, no entanto, quando se tornou evidente que descontar os votos fraudulentos impediria Karzai de chegar aos 50%, mudaram de ideias, poupando o presidente às indignidades de se submeter a uma segunda volta. Hamid Karzai obteve finalmente a maioria absoluta necessária para ser declarado vencedor nas eleições afegãs.
A fraude eleitoral foi tão descarada que as Nações Unidas tiveram a indelicadeza de pedir uma recontagem dos votos ao mesmo tempo que funcionários governamentais anunciavam triunfalmente os resultados.
Reconduzir um governo corrupto, impopular, incompetente e com ligações muito próximas ao narco-tráfico (o irmão do presidente é um dos sultões da droga locais) é fundamental para a estratégia americana de trazer a democracia à região. No entanto, a fraude deixa os EUA numa situação delicada: depois de toda a indignação com o roubo das eleições iranianas, com que cara é que podem continuar a declarar o seu apoio ao presidente reeleito?

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desintoxicação à mexicana


Um grupo de homens armados entrou numa clínica de reabilitação em Ciudad Juarez, mesmo na fronteira com os EUA, e deu alta definitiva a 17 dos pacientes, tendo deixado outros 3 em pior estado do que estavam antes.

Ao que parece, alguns traficantes de droga locais acusam as clínicas de protegerem traficantes de grupos rivais. Ou talvez não queiram perder clientes devido a desintoxicações bem sucedidas.

Tudo isto é só o mais recente episódio dessa novela sangrenta em que se transformou o México desde que o governo declarou guerra aos Cartéis. Em 14 meses, o número de mortos já ultrapassou os 6000, 2000 só em Ciudad Juarez (porque fica mesmo na fronteira com os EUA). O que é mais do que o número de americanos e britânicos mortos no Iraque e Afeganistão desde 2001.

A coisa boa de países como o México é que nos estão sempre a lembrar de como é bom viver em Portugal.