sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pausa para férias


Durante 3 semanas, não vai acontecer nada de mau no mundo. Pelo menos no meu.

42 dias depois


Nos 40 dias da morte de Neda, houve manifestações de luto e houve repressão policial.
Mas, como previsto, não houve mortos.
Com tanta contenção do governo, vai ser difícil mudar de regime no Irão.

Celebrar o quê?


A Espanha sofreu dois atentados bombistas em outros tantos dias. A culpa, como de costume, foi atribuída à ETA. Uma das muitas instituições geradas pelo Franquismo que continuam a dominar a política espanhola, para o bem e para o mal, a ETA deixou de ter justificação para existir há muito tempo (ao contrário da causa da independência do País Basco que diz defender).
Por que carga de água é que andam a pôr bombas outra vez? Porque a ETA foi fundada a 31 de Julho de 1959, o que perfaz 50 anos de lenta descida da legitimidade para a infãmia.
Infelizmente, e ao contrário de outras senhoras de meia idade, a ETA continua a assinalar publicamente os seus aniversários. Segundo as autoridades espanholas, os operativos da formação terrorista começaram a festejar há dois dias, com fogo de artifício e muito sangue. Mas prevê-se que o pior aconteça hoje.
O que vale é que vou de férias 3 semanas, e não quero saber se há mais explosões, se foi mesmo a ETA ou se o governo espanhol se voltou a enganar, como quando acusaram os etarras dos atentados de Madrid..

quarta-feira, 29 de julho de 2009

40 dias depois


Amanhã pode ser o dia mais significativo para o movimento de oposição iraniana. Amanhã passam 40 dias da morte de uma rapariga chamada Neda, em Teerão. 40 dias é também o período de tempo que decorre tradicionalmente depois de uma morte para a realização de um dos mais importantes rituais de luto xiitas.
Naturalmente, as manifestações de luto por Neda já foram proibidas, mas a oposição afirma que as vai fazer de qualquer maneira. O que deixa o governo com um problema: é que a revolução islâmica, em 1979, começou assim. Uma morte levava a manifestações de luto, que eram reprimidas violentamente, o que gerava novas manifestações de luto e mais repressão. Foi este ciclo de violência/luto que acabou com o regime do Xá.
As autoridades religiosas conhecem muito bem esta dinâmica, peculiarmente xiita e iraniana, porque foi ela que acabou por os colocar no poder. Amanhã só haverá sangue nas ruas se alguém tiver esquecido as lições de 79.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Duh


O Virginia Tech realizou um estudo para determinar o risco de enviar mensagens de texto enquanto se está a conduzir. A um custo de 6 milhões de dólares, instalaram cãmaras de video em camiões de longo curso durante 18 meses. Os resultados não foram surpreendentes: o risco de colisão é 23 vezes maior quando se anda a ver os sms do que quando se está a distrair de outra forma qualquer.
Os condutores desviam os olhos da estrada quase 5 segundos (de cada vez) quando estão a receber ou enviar texto. Parece pouco, mas um camião a 80km/hora percorre mais de 100 metros nesse espaço de tempo. Muita coisa pode correr mal no espaço de um campo de futebol, como todos os benfiquistas sabem. O teste foi realizado em camiões nos EUA, mas os resultados aplicam-se a condutores de SUV portugueses a fazerem reservas para o jantar enquanto negoceiam a A1 a 180km/h, com os miúdos a jogar playstation no banco de trás.

O dado mais relevante, no entanto, é saber que há tantos camionistas a mandar mensagens de texto (ao volante de monstros de várias toneladas) que justificaram que se fizesse um estudo. Devem ser as saudades de casa.
Sempre que virem um camião TIR, tenham medo: pode ser um desses artistas que são o máximo no multi-tasking. Pelo menos até entrarem por um autocarro cheio de reformados adentro.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mind the gap


Um site com as diferenças entre nós e os outros, tanto os que estão acima como os que estão abaixo. Quando se tem acesso a uma visão do mundo baseada em factos, a nossa visão do mundo muda?

Ainda ganha o Nobel da medicina


Um estudo realizado no Zimbabué revela que a disseminação do HIV caiu dos 23 por cento da população em 2001 para 11 por cento em 2008. Diferentes fontes e métodos chegaram a resultados semelhantes.

Com 80 por cento de desemprego e uma inflação com tantos zeros que foi preciso criar notas de 100 triliões de dólares (cem milhões de milhões), o milagre médico operado pelo regime de Mugabe parece difícil de explicar.

Mas, na verdade, não passa de mais um sintoma da catástrofe económica do país.
Muito simplesmente, se os homens do Zimbabué não têm dinheiro para comer ou pagar a renda, muito menos o têm para manter amantes, sair à noite, oferecer jantares, chocolates, perfumes e outros rituais de acasalamento. Ou, quando tudo o resto falha, pagar a prostitutas.

Segundo os investigadores, a crise económica está a funcionar como uma espécie de quarentena sexual. Ou como dizem as putas na Tailândia: “no money no honey”.

Mugabe é um candidato ao Nobel da Medicina e ao Tribunal Internacional de Haia.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Globalização


Um trabalhador chinês de 25 anos suicidou-se depois de um de 16 protótipos do iPhone que estavam a seu cargo ter desaparecido.
Não se matou por excesso de zelo, no entanto. Suicidou-se depois de (aparentemente) ter sido detido e espancado pela segurança da Foxconn, uma subsidiária chinesa da Apple. O responsável pela segurança da empresa (que afirma a sua inocência) foi detido pela polícia.

A Apple lamenta o sucedido, mas não devia: as razões porque fazem telemóveis na China são as mesmas porque a Nike faz sapatilhas na Indonésia: a vida humana lá não vale grande coisa.

Seoul power



Já tinha saudades destas pequenas altercações nos parlamentos do Extremo Oriente. A Formosa tem andado muito sossegada e a Coreia do Norte, que não tem graça nenhuma, tem roubado a ribalta ao seu vizinho do sul. Nada como a tentativa de aprovação de uma nova lei para os media da Coreia do Sul para pôr deputados a aparvalhar da forma mais mediática possível. São coisas como esta que nos fazem suspirar por mais democracia no mundo.
Aqui há também uma lição de maturidade política para os políticos nacionais: porquê fazer corninhos quando se pode simplesmente andar à porrada?

terça-feira, 21 de julho de 2009

A conclusão mais lógica


Uma televisão onde os comentadores dizem às pessoas apenas o que elas querem ouvir, em nome da sua popularidade pessoal ou das audiências do programa? Inconcebível.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Mais de um ano de irrelevância


Acabo de reparar que este blog já tem mais de um ano. A velocidade a que o tempo passa nunca deixa de surpreender.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Parabéns?


Há 40 anos, o Homem estava a caminho da Lua. 40 anos depois, parece que a Humanidade não vai a mais lado nenhum. Será que já nasceu a primeira pessoa que há de ir a Marte, quem sabe, um dia? Será que voltar a pôr um astronauta ou dois na Lua (andam a falar nisso, pelo menos) é tudo o que podemos esperar num futuro mais ou menos próximo?
A celebração dos 40 anos do primeiro passo na Lua só me faz pensar como o futuro já não é mesmo o que era.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Trabalho infantil



Os exércitos de países desenvolvidos inteiramente compostos por profissionais, como o do Reino Unido, têm cada vez mais dificuldade em arranjar recrutas suficientes para manter os níveis de pessoal. O que os leva a recrutar cada vez mais cedo. Ir parar ao Afeganistão com 17 ou 18 anos é cedo de mais. Pensando melhor, ir lá parar com 30 ou 40 também.

Momentos depois



Um soldado morto por um IED (improvised explosive device) no Afeganistão é uma notícia tão frequente que às vezes nos esquecemos do que isso significa. A expressão "morreram com as botas calçadas" torna-se uma piada de mau gosto quando vemos os efeitos de um ataque com explosivos.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O inovador


Barack Obama pode ter colocado ser negro na moda. Mas décadas antes de ser branco, já Michael Jackson era negro. Muito antes de Britney Spears, já Michael Jackson usava as cuecas por cima da roupa. Anos antes dos clientes da Casa Pia, já Michael Jackson acreditava que as crianças eram o seu futuro. Anos antes do programa da mtv "I want a famous face", já Michael Jackson tinha mandado fazer uma. Anos antes da SARS e da gripe suína, já Michael jackson andava de máscara protectora.
O homem foi sempre mais interessante do que a música que fazia. Mas não de uma maneira boa.

Ouro líquido

A água vai ser um dos bens mais escassos e preciosos no futuro, mais ainda que o petróleo. Pois bem, o futuro já chegou, pelo menos para os tansos e os mais distraídos.

Hoje paguei 80 cêntimos por uma garrafa de água de 20cl. Se a gasolina fosse tão cara, um litro custaria €3.20. E já tiveram a lata de me vender uma garrafita de 20cl a €1 e 20, ou €4 e 80 o litro.

Porque é que a água engarrafada é tão cara? Porque os restaurantes sabem que as pessoas só reparam no preço do prato ou da garrafa de vinho e não ligam ao pãozinho, ao pratinho de azeitonas e à garrafinha de água. Até vir a conta, claro.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Surpresa

A CIA tinha um programa secreto para assassinar líderes da Al Qaeda. A revelação surpreendeu os congressistas americanos, até porque a lei obriga a que o Congresso seja informado de toda e qualquer actividade da CIA. Uma lei criada nos anos 70 precisamente para impedir programas de assassinato secretos.

Mas para quem já viu filmes do Chuck Norris, Steven Seagal, Sylvester Stallone, etc, surpresa seria não haver um plano qualquer do género. Metade dos filmes de acção de Hollywood são sobre operações secretas para assassinar ou capturar terroristas, traficantes de droga ou terroristas/traficantes de droga.

O programa, criado depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001, nunca foi para a frente por causa dos problemas legais e logísticos de fazer entrar tropas num pais estrangeiro para matar um tipo qualquer de turbante. Ou mais precisamente, pela dificuldade de o fazer e voltar a sair sem ser visto ou apanhado.

Descobrir preocupações com a lei internacional na administração Bush/Cheney é a verdadeira surpresa. Mas o proverbial secretismo e abuso de poder da famigerada dupla levam a pensar que o problema foi outro: encontrar alguém à altura das expectativas criadas pelos filmes do Rambo, Desaparecido em Combate, Força Delta e outras grande tretalogias do cinema de acção.

O verdadeiro programa de assassinatos não tem nada de secreto. Continua a ser aplicado, com a aprovação do novo presidente, e os seus resultados podem ser vistos quase todos os dias no telejornal.

Com nome inspirado noutro grande franchise do cinema de acção, os veículos aéreos não tripulados Predator continuam a entrar em países estrangeiros para matar um tipo qualquer de turbante (e toda a gente que estiver por perto), à distância e controlado por Rambos de computador. E fazem-no à vista de todos.


sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quantos G são demais?


O G-6 foi criado para que os países mais ricos do mundo (na altura, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália) se pudessem juntar de vez em quando para darem palmadinhas nas costas uns dos outros. Depois veio o G-7, que era os G-6 mais o Canadá, que era suficientemente rico, simpático e civilizado para fazer parte do clube. Depois, os russos quiseram entrar para o clube também (apesar de não terem dinheiro na altura, 97), com o argumento de que tinham demasiadas bombas nucleares para serem deixados à porta. Nasceu o G-7+1, que eventualmente se passou a chamar de G-8.

Mas a coisa não podia ficar por aí. Os países novos-ricos são como as pessoas: querem ser reconhecidos como membros de qualquer coisa importante e exclusiva. E não descansarão enquanto a sua candidatura não for aceite, mesmo que o clube deixe de ser exclusivo porque eles passaram a fazer parte dele.

Com outros países a baterem à porta, de PNB em crescimento na mão, os G-8 começaram a ter cada vez mais países convidados.

Um grupo (China, Índia, Brasil, México e África do Sul) passou mesmo a ser conhecido como os G-5, e a reunião dos G-8 transformou-se num mais representativo mas caótico G-8 + 5. O objectivo dos G-5 é fazerem parte dos G-8, que passariam a ser os G-13. Enquanto isso não acontece, a missão dos G-5 é sabotar as decisões dos G-8 como irrelevantes porque não os incluem.

Além destes 13, costuma haver convidados adicionais, desde países (este ano é +1, o Egipto) a organizações internacionais. E é aqui que as coisas ficam realmente absurdas, com encontros de trabalho a listar os participantes como sendo os G-8 + 5 + 1 + 5

À medida que vai crescendo o número de membros, no entanto, a força dos G vai diminuindo. Por um lado, não pode ignorar os méritos das candidaturas de países como a China , a índia ou o Brasil. Por outro, e como qualquer clube exclusivo, a influência que exerce diminui um pouco com cada novo membro que aceita.

A reunião que realmente importa hoje em dia (segundo dizem) é a dos G-20, que são os G-8 + G-5 + 6 (Argentina, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Turquia) e ainda (porque França, Reino Unido, Itália e Alemanha não era suficiente), + 1, a União Europeia. Deve ser porque é um encontro dos ministros da economia e directores de bancos centrais, em vez de Berlusconis e criaturas do género.

O único mérito do G-8 + 5 ou do G-20 é demonstrar ao mundo, com a clareza que só os números podem ter, que os G-192 (mais conhecidos por ONU) são cada vez menos relevantes.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

O degelo recomeça


Depois de um período (conhecido como "os anos Bush") de quase reatamento da guerra fria, os Estados Unidos e a Rússia anunciaram que estão a combinar diminuir a sua capacidade de destruir a humanidade num holocausto nuclear de 10 vezes para apenas 7. 
Não parece grande coisa, mas o que importa é que as pessoas que têm 95% das armas nucleares do mundo voltaram a falar uns com os outros. 
Um pouco de confiança restaurada, combinada com a continuação da destruição mútua assegurada, são as melhores garantias da continuação da paz entre as duas superpotências nucleares, que está quase a fazer 65 anos e parecia à beira da reforma apenas um ano atrás. 

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mas eles estão em todo o lado?


A China matou mais Uígures (quem?) ontem do que tibetanos antes, durante e depois das Olimpíadas. Ou que o governo do Irão em mais de uma semana de protestos. Mas não faz mal, porque os Uígures são muçulmanos e basta rotular a sua insatisfação de "fundamentalismo islâmico" para justificar qualquer repressão. 

Desde que a guerra fria acabou que os povos muçulmanos um pouco por todo o mundo perderam o direito à insurreição, um direito inalienável de todos os povos oprimidos e/ou ocupados. Em muitos casos, o único direito que tinham. 

Tal como os afegãos eram heróicos combatentes da liberdade, os uígures também seriam um povo do caraças se o papão comunista ainda estivesse vivo. O problema deles é que a implosão da União Soviética tornou necessário encontrar uma nova ameaça que justificasse as despesas militares. Como não havia país que se aproximasse do Perigo Vermelho, optou-se pelo fundamentalismo islâmico. 

A grande vantagem do novo inimigo é que não pode ser derrotado mas não representa uma verdadeira ameaça. A guerra contra o terror (uma frase brilhante) só precisa de acabar quando já não for necessária. Ou quando aparecer um inimigo novo. Que tal os chineses? Não, que são nossos aliados na guerra contra o terror. E depois, têm bombas atómicas e dinheiro e as coisas podiam tornar-se sérias.

O Islão é o novo bicho papão do ocidente. As ditaduras de todo o mundo agradecem.