sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Dr. Jekill e Mr.Hyde


Nada revela melhor o carácter esquizofrénico do estado de Israel do que a rapidez e eficiência com que responderam à catástrofe haitiana. Um dos primeiros países a enviar médicos e pessoal de socorro para Port-au-Prince, Israel está a colocar a bom uso a sua vasta experiência em medicina traumática, e os elogios estão a chegar de todas as direcções.

Os israelitas têm saudades dos tempos em que toda a gente (no ocidente) gostava deles e eram sempre favoritos para ganhar o festival da Eurovisão. Com a cobertura mediática positiva os israelitas podem voltar a dizer "Vêm, não somos tão maus como vocês dizem" sem se engasgarem a meio da frase.

Mas também há quem pergunte, especialmente dentro de Israel, se todo este humanitarismo exemplar projectado a milhares de quilómetros de distância não seria melhor aplicado mesmo ali ao lado, numa catástrofe humanitária chamada Faixa de Gaza. E que os esforços israelitas para salvar vidas haitianas tornam mais difíceis de aceitar e justificar as suas acções em Gaza que, ao contrário do Haiti, é uma desgraça inteiramente criada por humanos (talvez não seja a melhor palavra).

O dr. Jekyll está no Haiti, a fazer aquilo que qualquer nação com consciência e meios devia estar a fazer agora. Infelizmente, o mr. Hyde continua na Palestina. E, tal como no livro, a tragédia de Israel é que o lado negro da sua personalidade é cada vez mais dominante.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Tudo explicado



Segundo o evangelista americano Pat Robertson, (que afirma que terramotos, furacões, tsunamis, um eventual cometa que atinja a terra e outros fenómenos naturais não passam de castigo divino para o sexo antes do casamento, homossexualidade e outros pecados) o Haiti foi atingido por um terramoto porque os escravos haitianos, antes de se revoltarem contra os seus mestres franceses em 1791, fizeram uma cerimónia vudu. Como o vudu é coisa do demo, isso condenou a nação caribenha a sofrer, para sempre, da ira divina.
Eles existem, eles andam aí e eles recebem tempo de antena.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Ricos e mal agradecidos


Nos Estados Unidos (claro), apareceram grupos de apoio para ajudar fãs do filme Avatar a ultrapassarem a tristeza e depressão que vem do conhecimento de que o mundo de Pandora não existe.

Se os mandassem a todos para o Haiti, para aprenderem como é realmente viver num mundo sem esperança, passava-lhes a depressão num instante.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Deus insiste


Em 2008, a nação mais pobre do hemisfério ocidental foi atingida por nada menos que 4 furacões, provocando uma tamanha devastação na frágil infra-estrutura local que, dois anos depois, a economia do Haiti ainda não recuperou para o nível de subdesenvolvimento extremo de 2007.

Em 2010, o país mais devastado por catástrofes naturais das Caraíbas foi arrasado pelo pior terramoto desde 1751. Para as nações mais ricas do mundo, esta acumular de desgraças testaria até ao limite as capacidades de resposta do estado. Para o extremamente pobre, mal governado e sempre a um passo da insurreição armada Haiti, mais esta catástrofe é praticamente uma ameaça existencial. O Haiti é o único país do mundo onde ser zombie pode parecer uma melhoria no estilo de vida.

Mas há sempre esperança.
Daqui a um dia ou dois, talvez encontrem uma criancinha ainda viva debaixo de um monte de escombros, quando já não havia mais esperança de encontrar sobreviventes. As pessoas vão dizer que foi um milagre, que Deus fez descer o Espírito Santo sobre uma nação martirizada para lhe devolver um pouco de esperança, etc.

Pessoalmente, acho que teria sido melhor que Deus não lhes tivesse enviado mais uma das suas demonstrações de omnipotência. Em momentos como este imagino Nosso Senhor como um Papa Doc celestial, entretido a espetar alfinetes numa boneca vudu do planeta terra, com Cristo (chamemos-lhe Baby Doc) sentado à Sua direita a aprender como se inspira temor.

Se Deus insiste, para que é que existe? Se calhar é só o movimento das placas tectónicas: ao menos assim há uma razão para as coisas acontecerem.

ps: por falar em intervenções divinas, o presidente Obama já prometeu ajuda, mas o Haiti é um problema muito maior do que Nova Orleães, e todos sabemos como as coisas correram depois do Katrina na nação mais rica do mundo.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O progresso é uma coisa relativa


Os Taliban mataram mais soldados da Nato em 2009 do que em todo o período de 2001 a 2006.
Hoje foram mais 6.
6 jovens que nunca vão conhecer as alegrias do casamento homossexual ou celebrar o facto de os intérpretes modernos do calendário Maias estarem tão enganados como os arautos do apocalipse ao virar do milénio.

Progresso


O povo não vai poder escolher se o casamento homo deve ser legalizado ou não. O que quer dizer que os comentadores/políticos/peixeiras/padres e outros especialistas na santidade do matrimónio vão ter de arranjar outro assunto de que falar.

Progresso II


Não importa que a década só acabe a 31 de Dezembro de 2010. Para todos os efeitos práticos, parece que já chegámos aos Anos 10. O que quer dizer que passaram 10 anos desde que o mundo ia acabar e ainda cá estamos todos, pelo menos até ao próximo dia em que o mundo acaba, que é já em Dezembro de 2012.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

E não haverá cura para a anormalidade?


O Uganda passou uma lei que condena os homossexuais à forca. Há países que não valem mesmo um cu.

Danos colaterais de um par de cuecas explosivo


Um nigeriano tentou fazer cair um avião no dia de Natal com um dispositivo exclusivo que levava nas cuecas. Correu mal (um wardrobe malfunction, como diria a Janet Jackson).

Dias depois, já noutro ano mas ainda nesta década de merda que nunca mais acaba, o governo liberal do prémio Nobel da paz anunciou que os 30 detidos iemenitas da prisão de Guantanamo (sim, continua aberta) afinal não vão ser libertados.

A razão porque iam ser libertados é que nunca fizeram mal a ninguém, apenas conheciam alguém que tinha um primo cujo cunhado disse que era da Al Qaeda numa festa do escritório para impressionar uma estagiária.

A razão porque já não vão ser libertados (depois de 9 anos de prisão sem culpa formada), é que eles são do Iémen, e o homem das cuecas avariadas terá recebido treino neste canto mais ou menos esquecido da península arábica.

E então? E então, se calhar quando eles voltarem para casa vão ser contactados por terroristas e, não tendo aprendido nada nos seus 9 anos de cativeiro, vão ser seduzidos com um timeshare no Palm Dubai e 72 virgens no além e tornar-se bombistas suicidas eles mesmo.
Para não falar no perigo dos terroristas passarem a conhecer os métodos de “interrogação” dos Estados Unidos em primeira mão, em vez de verem as recriações na CNN.

Moral da história: se foram parar a Guantanamo porque, em tempos, conheceram um terrorista (talvez), agora não podem sair porque podem conhecer um no futuro (quem sabe).
“Sim, a gente pode” tem um significado cada vez mais diferente do que tinha antes do candidato da mudança se ter tornado no continuador da matança.