segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
O que é que julgam?
Parece que morreu um inocente na líbia, uma menina de 11 anos. Tenho um problema com esta forma de comunicar notícias: os outros líbios que foram mortos, mais de 1000 até ao momento, são culpados de quê ao certo?
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Pela calada
Depois da queda de dois presidentes no norte de áfrica, o pequeno estado do Barém reencontrou a solução tradicional para evacuar praças cheias de manifestantes pró-democracia: esta madrugada, a polícia entrou na praça a matar, no sentido literal do termo.
Como é que o governo do Barém, que não é tão péssimo como o do Egipto, foi capaz de fazer isto? Há uma diferença fundamental entre os dois países: o rei e a classe dominante sunita são tão populares no Barém de maioria xiita (70%) que os agentes da policia e militares têm de ser recrutados noutros países, não vá o diabo tecê-las. Assim, e ao contrário do Egipto, os recrutas do Barém não se arriscam a apanhar a prima ou o irmão na mira das espingardas e são capazes de fazer o seu trabalho descansados e até com alguma satisfação.
Quanto a Obama, não é agora que o líder do mundo livre vai apoiar os desejos de democracia de um povo árabe contra o seu ditador. O Barém tem petróleo e é a base da 5ª frota da marinha americana. O argumento da estabilidade, moderação e transição pacífica que tem sido usado tem muito mais peso aqui. E a última coisa de que o homem da mudança em quem já ninguém acredita precisa é de mais um governo xiita no médio oriente.
Claro que tudo isto teve um efeito secundário: pelo menos 5 mortos e 200 feridos depois, as palavras de ordem dos manifestantes mudaram do Democracia Já para o Morte a Khalifa (o rei absoluto/ditador do sítio).
Como é que o governo do Barém, que não é tão péssimo como o do Egipto, foi capaz de fazer isto? Há uma diferença fundamental entre os dois países: o rei e a classe dominante sunita são tão populares no Barém de maioria xiita (70%) que os agentes da policia e militares têm de ser recrutados noutros países, não vá o diabo tecê-las. Assim, e ao contrário do Egipto, os recrutas do Barém não se arriscam a apanhar a prima ou o irmão na mira das espingardas e são capazes de fazer o seu trabalho descansados e até com alguma satisfação.
Quanto a Obama, não é agora que o líder do mundo livre vai apoiar os desejos de democracia de um povo árabe contra o seu ditador. O Barém tem petróleo e é a base da 5ª frota da marinha americana. O argumento da estabilidade, moderação e transição pacífica que tem sido usado tem muito mais peso aqui. E a última coisa de que o homem da mudança em quem já ninguém acredita precisa é de mais um governo xiita no médio oriente.
Claro que tudo isto teve um efeito secundário: pelo menos 5 mortos e 200 feridos depois, as palavras de ordem dos manifestantes mudaram do Democracia Já para o Morte a Khalifa (o rei absoluto/ditador do sítio).
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Se Maomé não vai a Las Vegas, Las Vegas vai a Maomé
Mais de 600 metros de altura! O maior relógio do mundo! 7 torres! 3000 quartos de hotel com vista para a Qaaba! 1,4 milhões de m2 de construção! O espírito de Las Vegas chegou a mais um deserto, com os mesmos resultados que no Nevada: uma mistura de excesso com o kitsch mais bimbo e uma total ausência de sentido de escala.
A diferença é que tudo isto está no lugar mais sagrado do mundo para mais de mil milhões de pessoas.
Aparentemente, o governo saudita está convencido que esta aberração se vai tornar num marco e conquistar a admiração do mundo. Eu acho que tudo o que vão conseguir conquistar é o ridículo, mas não falta gente foleira por aí.
Os sauditas querem que a hora de Meca substitua a hora de Greenwich como novo padrão mundial. Argumentam cientificamente que Meca está no centro do mundo mesmo, e não apenas no centro do mundo deles. Assim, como argumento adicional, colocaram no topo da torre maior desta monstruosidade a maior imitação do Big Ben do mundo, com mostradores com 46 metros de diâmetro. Só para comparar, a Caaba tem apenas 15 metros de altura: é aquele pixel escuro perdido mais em baixo, na foto.
Este triunfo da tecnologia muçulmana é feito pela empresa alemã Premiere Composite Technologies. Para baixar ainda mais o nível, o relógio vai ter 21 mil luzes verdes e brancas, que piscam para anunciar a hora da oração e são visíveis a 30 km. A expressão iluminação espiritual ganha todo um novo sentido. Como ofensa final, as quatro faces do relógio têm escrito Em nome de Deus, como se a dita entidade sobrenatural tivesse alguma coisa a ver com isto.
A monarquia saudita alicerça a sua legitimidade no facto de ser a guardiã dos locais mais sagrados do Islão. Mas parece que não passam de vendilhões do templo. Se eu fosse muçulmano, declarava guerra santa. Como sou só um ateu que acredita no bom gosto e que há coisas sagradas, tudo o que posso declarar é o meu desprezo.
Ps: A construtora chama-se Bin Laden. Esses Bin Laden. Cada vez percebo melhor o ódio que o Osama tem pela sua família de patos bravos e respectivos empregadores. Pode ser que ainda vejamos um 747 cheio de princípes sauditas bêbados, de regresso de umas férias em Vegas, a entrar por um dos mostradores dentro.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
O Mubarak já está
Livrarem-se do Mukhabarat, a polícia secreta liderada pelo torturador-em-chefe (e favorito do ocidente para sucessor de Mubarak) Omar Suleiman é que é capaz de ser mais difícil.
Especialmente porque um tal de apóstolo da mudança americano resolveu que, no caso do Egipto, era boa ideia apostar na continuidade. O problema é que, no caso do Egipto, continuidade é mais do que os egípcios são capazes de suportar.
Especialmente porque um tal de apóstolo da mudança americano resolveu que, no caso do Egipto, era boa ideia apostar na continuidade. O problema é que, no caso do Egipto, continuidade é mais do que os egípcios são capazes de suportar.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Onde é que ele foi buscar os outros 3 mil milhões?
Os americanos deram 37 mil milhões de dólares ao regime egípcio desde 1981. Por pura coincidência, a fortuna pessoal de Mubarak é estimada em 40 mil milhões de dólares.
Porque é que nunca chega?
Porque é que nunca chega?
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Como eu quase fui um Jornalista a Sério
Hoje passei por uma revista sábado que proclamava: Como eu quase morri na Guerra de África.
Não tenho nada a dizer contra os homens que, como se dizia antigamente sem ser fascista, derramaram sangue pela pátria (deles ou dos outros). Tudo o que tenho a dizer é: Como eu quase vivi sem Ler aquele Título.
Talvez esteja a ser picuinhas, mas podiam apresentar as memórias dos homens que sobreviveram à guerra num tom diferente do que usam para vender escândalos do ai society, assim tipo: Como eu quase morri na minha primeira lipossucção.
É só uma sugestão.
Não tenho nada a dizer contra os homens que, como se dizia antigamente sem ser fascista, derramaram sangue pela pátria (deles ou dos outros). Tudo o que tenho a dizer é: Como eu quase vivi sem Ler aquele Título.
Talvez esteja a ser picuinhas, mas podiam apresentar as memórias dos homens que sobreviveram à guerra num tom diferente do que usam para vender escândalos do ai society, assim tipo: Como eu quase morri na minha primeira lipossucção.
É só uma sugestão.
É um milagre
Sim.
Mas não é deus que faz mexer este movimento, são pessoas comuns com problemas comuns: desemprego, aumentos de preços, desigualdade crescente de rendimentos, falta de liberdade, abusos de autoridade, etc. Este movimento ainda não tem líder, mas mais cedo ou mais tarde vai ter, porque as revoluções são assim: um cortar violento com o passado seguido de uma série de compromissos que trazem a ordem estabelecida de volta, um pouco menos arrogante.
Os governos ocidentais tardam em apoiar uma revolução que reflecte os seus melhores ideais porque receia quem irá suceder ao seu ditador de estimação actual. Mais especificamente, receiam o bicho papão do século xxi, o fundamentalismo islâmico. Não importa que o maior aliado árabe do ocidente, a arábia saudita, seja o estado mais fundamentalista e repressivo do mundo, lar de 15 dos 17 terroristas do 11 de setembro e financiador de tudo que é fundamentalismo por esse mundo fora, a começar pelos talibãs, que são ainda mais anormais do que eles.
Um egipto islâmico? O egipto é islâmico desde o século vii, sem que por aí tenha vindo grande mal ao mundo. E será sempre menos mau e terá sempre muito menos dinheiro do que a cleptomonarquia wahabista com a qual nos damos tão bem.
Não é que eu acredite em milagres, mas então e que tal se arranjássemos um inimigo novo para os anos 10 e mais além, um que tivesse realmente o poder económico e militar que justificasse as despesas militares crescentes desse garante da liberdade mundial que são os estados unidos. Assim tipo china, sei lá. Parem é de bater no aleijadinho.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Vamos reflectir sobre o assunto?
A Europa está preocupada com o Egipto. Receia que a transição de poder não seja feita de forma ordeira. A ordem é muito importante para a Europa e deve ser mantida a todo o custo. É por isso que a Europa, ao mesmo tempo que aceita que a democratização do país seja necessária, elogia o "papel moderador" do seu presidente desde há 30 anos, Hosni Mubarak.
O prémio nobel da paz Obama está preocupado com uma eventual subida ao poder do prémio nobel da paz, El Baradei (única figura proeminente da oposição que está viva e não é procurada por terrorismo) porque este, enquanto chefe da agência atómica internacional, andou às turras com o governo Bush porque era contra a guerra do Iraque e um eventual bombardeamento do Irão. Tal como Obama.
O homem da foto não está preocupado se perde o outro olho ou não. Ele sabe que, se depender das preocupações das democracias ocidentais, vai ter mais 30 anos de ditadura.
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