A China matou mais Uígures (quem?) ontem do que tibetanos antes, durante e depois das Olimpíadas. Ou que o governo do Irão em mais de uma semana de protestos. Mas não faz mal, porque os Uígures são muçulmanos e basta rotular a sua insatisfação de "fundamentalismo islâmico" para justificar qualquer repressão.
Desde que a guerra fria acabou que os povos muçulmanos um pouco por todo o mundo perderam o direito à insurreição, um direito inalienável de todos os povos oprimidos e/ou ocupados. Em muitos casos, o único direito que tinham.
Tal como os afegãos eram heróicos combatentes da liberdade, os uígures também seriam um povo do caraças se o papão comunista ainda estivesse vivo. O problema deles é que a implosão da União Soviética tornou necessário encontrar uma nova ameaça que justificasse as despesas militares. Como não havia país que se aproximasse do Perigo Vermelho, optou-se pelo fundamentalismo islâmico.
A grande vantagem do novo inimigo é que não pode ser derrotado mas não representa uma verdadeira ameaça. A guerra contra o terror (uma frase brilhante) só precisa de acabar quando já não for necessária. Ou quando aparecer um inimigo novo. Que tal os chineses? Não, que são nossos aliados na guerra contra o terror. E depois, têm bombas atómicas e dinheiro e as coisas podiam tornar-se sérias.
O Islão é o novo bicho papão do ocidente. As ditaduras de todo o mundo agradecem.
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