quarta-feira, 18 de junho de 2008

A América está de volta


Ou pelo menos o habeas corpus. O Supremo Tribunal dos Estados Unidos, numa decisão de 5 contra 4, começou a lenta restauração das liberdades que fizeram da América o destino de milhões de pessoas e o sonho de muitos mais. E não vai ficar por aqui. Parece que, afinal, a tortura de prisioneiros não é uma coisa aceitável num estado democrático. A prisão de Guantanamo vai ser fechada. Os "combatentes inimigos" vão poder ser julgados em tribunal, e vão ter de ser acusados, finalmente, de qualquer coisa. Ou não, que "os piores dos piores", em muitos casos, só são culpados de estar no local errado na hora errada, como o governo por diversas vezes já se viu forçado a admitir.

Com um nível de aprovação mais baixo que o de Nixon no seu pior, Bush assiste impotente ao lento desmantelar do seu império do mal. Quando Cheney afirmou, no pós-11 de setembro, que a América tinha de descer ao "dark side" para lutar contra a Al Qaeda, poucos terão suspeitado como as coisas se iam tornar sombrias. 

A maneira como o mundo via os Estados Unidos começou a mudar também. Da solidariedade e apoio incondicional que a América recebeu depois dos ataques de 11/9/2001, quando até os franceses disseram "somos todos americanos", passou a um misto de receio, incredulidade e desconforto. Nos países muçulmanos, no entanto, bastou ouvir Bush falar de uma nova Cruzada para que eles percebessem o que os esperava. 

E porquê? A Al Qaeda é um inimigo tão poderoso que justifique que a América deixe de ser a terra dos livres? Nem por isso. Por muito terrível que o 11 de setembro tenha sido, os terroristas não têm capacidade para acabar com a civilização ocidental ou para derrotar a maior superpotência que o mundo já viu. Mas os políticos têm capacidade para o fazer, usando o terrorismo como desculpa. 
A América não teve de mudar para pior para derrotar a Alemanha nazi ou ganhar a Guerra Fria. Comparar  Bin Laden com Hitler ou afirmar que a Al Qaeda é uma ameaça tão grande como os nazis é ridículo, e é uma mentira cada vez mais difícil de engolir. 

Agora, se Bush não fizer mais nenhuma aleivosia antes de sair pela porta pequena (como bombardear o Irão), o próximo presidente vai poder colocar o comboio da liberdade de volta nos carris. A América está de volta?

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