Por vezes, a frase pura e simplesmente não faz sentido, porque o tradutor ou não conhecia a expressão ou não percebeu, e resolve inventar qualquer coisa. Alguns favoritos:
"Costumava fazer piqueniques em Londres."
(Estudava na politécnica de Londres – Devemos dar um desconto, polytechnic e pic-nic são de facto muito parecidos)
"Eu passava férias com o Capitão Tibe."
(Eu passava férias em Cap d’Antibes – Como sabemos, o Capitão Tibe é subordinado do General Motors, mas dá ordens ao Cabo Espichel)
"Larga essa revista."
(Larga o carregador – Ambos são magazine, mas a imagem era de um homem a introduzir um carregador novo na arma. O tradutor viu o filme?)
"Suspeitava-se do Arson."
(Suspeitava-se que tinha sido fogo posto - Aqui o tradutor criou uma nova personagem, Arson, que não volta a aparecer no livro)
Em todos os casos, os tradutores não sabiam do que estavam a falar e, por ignorância ou falta de profissionalismo, resolveram escrever qualquer coisa aproximada, nem que fosse só pelo som. Mas não é só nos filmes e literatura que as traduções são deficientes. Os media também são culpados.
Um dos grandes favoritos da história recente, a notória frase de Ahmadinejad, “Israel tem de ser apagado do mapa”, nunca foi dita por ele. O que ele afirmou foi: “Este regime de ocupação em Jerusalém deve desaparecer das páginas do tempo.”
Não é a mesma coisa, nem perto. Ainda menos se soubermos que estava a citar um discurso do Aiatola Khomeini, onde este afirmava que regimes como o do Xá, de Saddam Hussein ou o regime comunista da União Soviética parecem poderosos e invulneráveis mas acabam por desaparecer. Ahmadinejad limitou-se a juntar o regime sionista ao rol. Tal como Khomeini, ele não está a falar de destruir os países, está a falar de acabar com os governos, os sistemas políticos e uma ocupação injusta e contrária a todas as leis internacionais, menos a do mais forte.
No entanto, não há notícia sobre o presidente do Irão que não inclua essa referência, tantas vezes repetida que já se tornou como as alcunhas dos jogadores de boxe:
Mahmoud “Vamos destruir Israel” Ahmadinejad Vs O Mundo.
Ao contrário dos maus tradutores de filmes, livros e programas de tv, que só cometem o pecado de serem incompetentes, os media têm a responsabilidade de relatar a verdade.
Ouvi a citação de Ahmadinejad muitas vezes, e as condenações dos políticos ocidentais e israelitas ainda mais, antes de descobrir que a tradução era incorrecta. Para ouvir o que queriam que eu ouvisse, bastou-me ficar sentado no sofá. Para descobrir o que ele tinha realmente dito, tive de o procurar na internet.
No contexto actual de demonização do Irão, preparação indispensável a um eventual ataque, até que ponto é que estes erros de tradução são erros de facto? O Irão não só não tem capacidade para destruir Israel como não ameaça fazê-lo. Logo, há que tornar o Irão ameaçador para legitimizar qualquer intervenção.
O Irão e Israel são as coisas mais parecidas com uma democracia no Médio Oriente, um facto deprimente em si mesmo.
O Irão está muito longe da perfeição, mas é um paraíso se comparado com a monarquia absoluta de inspiração Wahabita da Arábia Saudita, esse grande aliado do Ocidente.
Israel só é impedido de ser um país normal pelos problemas causados por uma ocupação injusta, que está lentamente a corroer a alma do país.
Ambos cometem o pecado de serem governos teocráticos.
O que há de curioso no regime islamo-fascista, opressor de mulheres, patrocinador de terroristas, criador de programas de armas nucleares, etc, do Irão é que o Presidente, que não é quem tem mais autoridade, é eleito democraticamente. Como ganhou as eleições prometendo desenvolvimento económico, mais emprego e melhoria das condições de vida, e não cumpriu, é muito possível que deixe o cargo nas próximas eleições.
Não é preciso invadir o Irão para retirar este louco-perigoso-anti-sionista-negador-do-holocausto do poder. Basta esperar pelas próximas eleições. É como nos Estados Unidos.