A senhora Green está morta. Sabemos isso porque apareceu em todos os canais de televisão e sites de informação do mundo. Quem era a senhora Green? Não interessa. O que importa é como morreu.
Todos os dias morrem pessoas e ninguém lhes liga. O que torna especial a morte de Esmin Green, 49 anos, é que morreu em frente a uma câmara de video, na sala de espera da ala psiquiátrica de um Hospital, em Nova Iorque.
O que fez notícia não foi haver imagens da morte. É que não é só a senhora Green quem aparece no video de segurança.
Vemos um guarda que chega, olha para ela, coloca a mão na anca, encosta-se à parede, olha mais um pouco e vai-se embora. Nas cadeiras da sala de espera, outros aguardam a sua vez, pacientes, sem esboçarem um gesto para ajudar. Outro segurança aparece, rolando na sua cadeira de escritório. Também ele olha para a senhora Green, estendida no chão, durante algum tempo, até voltar a rolar para o seu posto.
Isto continua por muito tempo, demasiado tempo.
Depois de 24 horas à espera de ser atendida, e de quase uma hora caída no chão, o corpo da senhora Green desistiu e parou de funcionar. Só então as coisas começaram a funcionar à sua volta, como num episódio do E.R.
Mas o assunto não ficou por aqui. Para encobrir a sua incompetência e/ou falta de humanidade, as horas dos registos efectuados sobre a ocorrência foram alteradas para contarem uma história diferente. Os irresponsáveis do hospital esqueceram essa maravilhosa invenção que é o time-code no canto das imagens video.
7 já foram despedidos ou estão em investigação: a justiça é sempre mais rápida quando tem uma câmara apontada à cabeça. O hospital já emitiu o comunicado da praxe, a dizer que as acções dos seus funcionários não reflectem a compaixão que é a sua razão de ser e da qual tanto se orgulham. Como se um hospital não fosse as pessoas que lá trabalham.
Faz lembrar um excelente e muito deprimente filme romeno. Aconteceu na América, mas podia ter acontecido em qualquer outro lado.
Agora toda a gente liga à morte da senhora Green. Se alguém tivesse ligado à sua vida, ela continuaria a ser uma desconhecida para todos menos os seus amigos e familiares. Mas ao menos estaria viva.
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