quarta-feira, 23 de julho de 2008

Coração das trevas '08


Um albino é uma pessoa com uma condição hereditária caracterizada por uma deficiência parcial ou total de melanina nos olhos, cabelo e pele. Esta incapacidade de produzir melanina torna-o muito sensível ao sol, conferindo-lhe a palidez característica. Mas se perguntarmos a certos curandeiros da Tanzânia, ou aos seus clientes, ele é muito mais do que isso. 

Os albinos sempre foram vistos como diferentes, estranhos, o resultado de uma maldição na família. Mas agora são vistos de outra maneira. Os albinos tornaram-se uma fonte de rendimentos. 

Segundo alguns curandeiros, as diferentes partes do corpo de um albino trazem riqueza e prosperidade a quem tiver dinheiro para pagar o ritual. As pernas, por exemplo, garantem sucesso no sector mineiro. 

Em consequência, pelo menos 19 albinos foram mortos na Tanzânia desde Março de 2007, por criminosos que procuram obter partes dos seus corpos. 

Um grupo pode emboscar um albino à porta de casa com o propósito expresso de lhe cortar as pernas. Completado o pedido, deixam-no a esvair-se em sangue, levando para o curandeiro apenas os ingredientes que ele encomendou. A vítima, naturalmente, morre dos ferimentos. 

Mas não fica por aí. Afinal, ainda sobrou muita coisa. 

Para garantir que mais nenhuma parte do que era um ser humano seja levada, os familiares são obrigados a tomar precauções especiais, como despejar betão na campa, para dificultar a tarefa aos ladrões de túmulos. E são forçados a viver no terror de que sejam eles os próximos.

Calcula-se que haja cerca de 270 mil albinos a viver na Tanzânia. 
Enquanto houver pessoas que acreditam que o chifre de rinoceronte aumenta a potência sexual ou que as mãos de um albino tornam as redes de pesca mais produtivas, os curandeiros nunca vão ficar sem os seus ingredientes. 

Adenda: as pessoas calvas também têm os seus problemas na Tanzânia, sendo caçados pela sua língua, orgãos genitais e outros membros. Desconheço a finalidade exacta, mas talvez tenha a ver com a história de ser dos carecas que elas gostam mais. E haver cada vez menos rinocerontes.

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