A facção conservadora do regime iraniano não quis, simplesmente, derrotar a ala reformista. Com a vitória por dois terços dos votos do seu candidato, o presidente Ahmadinejad, procuraram colocar um prego final no caixão do pensamento reformista iraniano. Mas cometeram o erro de levar longe demais a manipulação dos números.
A democracia iraniana não tem ainda a maturidade, por exemplo, da americana: não dominam a arte de roubar eleições na secretaria, com a subtileza e os resultados à justa que são indispensáveis para desarmar a oposição.
Até é possível que Ahmadinejad tenha obtido mais votos que os outros candidatos - as suas políticas podem torná-lo impopular junto da classe média, mas continua a ser extremamente popular junto das classes mais desfavorecidas (que são muito mais numerosas no Irão que a dita classe média).
Mas não teve certamente o resultado anunciado de 63% dos votos, que dispensa uma segunda volta.
Agora, o homem que realmente manda no país, o supremo líder Khamenei, voltou atrás na sua prematura aprovação dos resultados e anunciou que o Conselho dos Guardiões vai investigar irregularidades nas eleições, um processo que pode levar 10 dias.
O resultado da investigação tanto pode ser uma confirmação da vitória de Ahmadinejad, com números mais fáceis de engolir, como a realização de uma segunda volta. Mas o verdadeiro momento histórico já aconteceu: os aiátolas viram o povo sair à rua, em números quase tão grandes como os das manifestações de 1979 que os levaram ao poder. E ficaram com medo.
p.s. segundo um amigo britânico que tem um amigo iraniano que tem as suas fontes no departamento de assuntos internos do Irão, os verdadeiros resultados das eleições foram os seguintes: o candidato reformista, Moussavi, teve 19,075,623 votos, o outro candidato reformista, Karroubi, 13,387,104 votos, o presidente Ahmadinejad 5,698,417 votos e o quarto candidato, o também conservador Rezaei, 3,754,218 votos.
A verdade deve estar algures no meio, como de costume.
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