A resposta é que muito pouca gente se deu ao trabalho de votar no partido mais votado em Portugal. Menos ainda do que a média europeia, de 42.94%.
A abstenção voltou assim a obter uma maioria esmagadora nas eleições europeias, com a fatia do eleitorado que fez a escolha de não escolher a ser superior à de todas as outras formações políticas juntas.
É o melhor resultado de sempre para os desinteressados europeus, uma força que tem crescido de forma imparável desde que o voto se tornou livremente disponível e, portanto, extremamente desinteressante.
Outros países não têm a nossa sorte. São países onde os diferentes partidos, ou os partidos únicos, continuam a receber a maioria dos votos (muitas vezes em número superior ao dos eleitores inscritos). Há mesmo sítios onde ainda se mata e se é morto pelo direito de votar, como na Europa de antigamente, países onde votar continua a ser um direito negado ou severamente restringido pelos respectivos governos. Na Europa de hoje, e apesar da maior crise económica das últimas décadas, os governos gastaram milhões só a tentar convencer as pessoas a votar, em quem quer que fosse. Mas já não vale a pena dizer que é um direito (duh), e nunca valeu a pena dizer que era um dever.
O triunfo da democracia é este: deixar a maioria as pessoas indiferentes a quem as governa. Para os mais idealistas, esta falta de interesse é perigosa para a aspiração de criar uma Europa unida e próspera. Mas para os políticos que mandam na europa, quanto mais desinteresse melhor: como os povos são intrinsecamente bairristas (especialmente em épocas de crise, como revela a subida generalizada da extrema direita), construir uma Europa unida só é possível à revelia de um eleitorado adormecido.
Não é por acaso que o Tratado de Lisboa só foi posto em causa na Irlanda e apenas porque a lei local obrigava à realização de um referendo. E não é por acaso que todos os políticos europeus vieram a público condenar essa aberração irlandesa de deixar as pessoas determinarem o seu próprio destino.
Um dia, havemos todos de acordar e perceber que o "sonho" europeu se tornou uma realidade e que o nosso voto, afinal, deixou mesmo de ter importância. Então, será preciso nada menos do que uma revolução para lhe escapar, com pessoas a matar e a morrer pelos seus direitos e tudo, como ainda se faz lá fora. Até lá, continuemos todos a dormir.
Sem comentários:
Enviar um comentário