quinta-feira, 24 de julho de 2008

A Segunda Vinda


Há provavelmente mais muçulmanos do que judeus na América (as estatísticas variam com as intenções de quem as utiliza). Mas não vemos políticos americanos a correr atrás deste eleitorado. Antes pelo contrário: recentemente, membros da campanha de Obama retiraram discretamente algumas apoiantes muçulmanas das proximidades do seu candidato, não fosse o senador democrata aparecer na TV com algumas mulheres atrás dele de lenço na cabeça.

Há mais de 5 milhões de judeus nos Estados Unidos da América, menos de 2% da população. No entanto, esta minoria há muito que tem uma importância política totalmente desproporcionada em relação aos seus números. 

Há uma excelente razão para isto: a Segunda Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Os judeus não acreditam na Segunda Vinda do Cristo, ainda estão há espera da primeira. 
Mas os evangelistas americanos acreditam, e acreditam que está para breve. Está tudo na Bíblia, se for lida de uma certa forma. Para que Jesus regresse, no entanto, há alguns pré-requisitos que é necessário cumprir.

É preciso, nomeadamente, que um estado Judeu seja fundado para que os judeus regressem à Terra Prometida. Já está, e chama-se Israel.
Depois, é preciso que nada de mal lhe aconteça. Também já está e chama-se política americana para o Médio Oriente, baseada num apoio total e incondicional de Israel, dê por onde der e por vezes contra os interesses dos próprios Estados Unidos.
Por último, é preciso guerra entre os árabes e os judeus, tal como eles acham que está profetizado na Bíblia. 

A maioria das pessoas fica horrorizada com o que se passa no Médio Oriente (ou já nem liga). Os evangelistas americanos vêm a mão do Senhor e cantam aleluias. Segundo a sua interpretação muito literal do Livro, está tudo a correr de acordo com o plano. O Armagedão está cada vez mais próximo.

Porque é que as confusões teológicas destes grupos são relevantes? Porque os evangelistas são mais de um quarto do eleitorado deste país de 300 milhões de habitantes. Nenhum candidato a presidente sonha poder ganhar as eleições indo contra as vontades e desejos deste grupo. 

Assim, uma das primeiras coisas que Obama e McCain fizeram depois de garantirem a nomeação pelos respectivos partidos foi prestar vassalagem pública ao AIPAC, o maior lobby pró-israelita americano. Cada um tentou exceder o outro nas suas declarações de eterna fidelidade e amor incondicional. 

Os pastores Cristãos Sionistas (é mesmo assim que alguns destes grupos se chamam) e as suas congregações ficaram satisfeitos por saber que nenhum dos dois vai atentar contra as suas visões apocalípticas. Segundo eles afirmam, a principal função dos Estados Unidos no mundo é defender a existência de Israel.

E não são só os candidatos a presidente. O eleitorado judeu é de facto importante em estados como Nova Iorque ou a Flórida, mas é muito difícil encontrar um senador que não seja incondicionalmente a favor de Israel. 
"Durante uma visita a Israel, Bush pergunta a Olmert se o seu país não gostaria de ser o 51º estado americano. O primeiro ministro diz que não, obrigado, porque passavam a ter só dois senadores." É uma anedota israelita.

E os judeus no meio disto tudo? Certamente que apreciam a influência que detêm sobre a única superpotência mundial. E a crença de muitos cristãos, especialmente protestantes anglo-saxónicos, de que os judeus deviam voltar a estabelecer-se na Terra Santa foi fundamental para o movimento sionista e para a formação do próprio estado de Israel. 

Mas serem as estrelas do filme que os evangelistas americanos criaram nas suas cabeças traz os seus problemas. É que, para a história ter o final esperado, os judeus vão ter que A) converter-se ao cristianismo ou B) morrer. Um estado judeu na bíblica Judeia e Samaria pode ter sido o primeiro passo, mas o seu desaparecimento ou conversão é fundamental para que a Segunda Vinda seja um sucesso. 

Os cristãos fundamentalistas afirmam gostar de tudo o que é hebraico, mas as suas crenças determinam que os judeus desapareçam da face da terra.

Com amigos destes, Israel nem precisava de inimigos.

1 comentário:

Anónimo disse...

... da face da terra e do céu também ... que aparentemente aquilo será um "members only" club!