A 26 de Junho de 2008, a menos de um mês do seu nonagésimo aniversário, Nelson Mandela deixou finalmente de ser um terrorista aos olhos do governo americano.
É uma ocasião histórica: não é todos os dias que o Congresso dos Estados Unidos retira um dos estadistas mais admirados em todo o mundo da lista oficial de terrorismo.
Aparentemente, todo o tempo que Mandela passou a lutar contra o Apartheid, na prisão e fora dela, não passou de actividade terrorista. Exactamente como o governo sul-africano de minoria branca afirmava.
Que o regime do apartheid rotulasse Madiba de terrorista não surpreende. Atribuir a classificação de organização terrorista à oposição, armada ou não, é uma prática tradicional, comum a ditadores e governos democraticamente eleitos.
O que surpreende é que uma luminária qualquer em Washington concordasse, e a coisa se tornasse oficial. Mas há uma explicação: o governo sul-africano podia ser muitas coisas, mas comunista não era uma delas. Os Estados Unidos não precisavam de mais.
Durante a Guerra Fria, todas as organizações ou indivíduos que combatiam ditaduras apoiadas pelos americanos eram perigosos terroristas de orientação comunista. E todos os movimentos que combatiam contra ditaduras comunistas ou suportadas pelos russos eram heróicos combatentes da liberdade. E vice versa.
O mundo era mais simples nos tempos da União Soviética.
Seria de esperar que as coisas mudassem para Mandela com o fim da guerra fria, do apartheid, de 27 anos de prisão, as primeiras eleições livres na África do Sul, o Nobel da Paz, etc. Mas não. A inércia da função pública, aparentemente, é igual em todo o lado.
Mesmo depois de Mandela ser eleito Presidente, continuou a ser um terrorista empedernido.
Quando visitou a América como presidente da África do Sul, nos anos 90, podia ter sido preso e levado a tribunal. Ou ninguém reparou ou o bom senso prevaleceu - Mandela não foi preso. Mas continuou na lista negra, até agora.
O que faz reflectir um pouco.
Se alguém do estatuto de Mandela só se livra da condição de terrorista porque estava quase a celebrar os 90 anos de idade e já começava a parecer mal, quantas pessoas por esse mundo fora, que lutam por uma vida melhor, mais direitos, liberdade, ou o que quer que seja, serão também terroristas sem nunca o terem sido?
As pessoas que combatem pela liberdade são o terror dos ditadores. E o embaraço dos impérios.
1 comentário:
Madiba saiu da lista por antiguidade :)Com os mais recentes ataques às liberdades civis na mais potente potência mundial, "a lista" tem engrossado tanto que há que fazer uma limpeza ao disco de vez em quando...
Como dizia suspeitar, já há de facto grupos de defesa dos direitos civis, nomeadamente contra a pena de morte, referenciados "terror watch list"... já para não falar do temido Cat Stevens :)
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