quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Dá de sola, USA



Muntader Al-Zaidi é o novo herói do mundo árabe, o homem que deu expressão em directo ao sentimento de milhões de pessoas. Um Saudita mais excêntrico até já ofereceu 10 milhões de dólares por qualquer um dos dois sapatos arremessados à cabeça do homem mais poderoso do mundo (até 21 de Janeiro).

Iraquianos (xiitas, sunitas, curdos, pessoas sem nada que fazer) desfilam unidos pelas ruas, de sapato ou chinelo na mão, exigindo a sua libertação, exaltando o seu heroísmo e lamentando a sua falta de pontaria. 
A discussão sobre se ele deve ser libertado ou não aqueceu de tal maneira no parlamento iraquiano que o presidente da assembleia ameaçou demitir-se. Numa demonstração de grande maturidade política, não o chegou a fazer e agora não tem comentários.

Muntader Al-Zaidi está vivo, em larga medida por causa de toda esta comoção. Só não se sabe em que estado está: a família ainda não foi autorizada a entrar em contacto com ele e continua detido sem culpa formada e sem ter sido apresentado a um juiz. Ao que parece, o governo iraquiano não quer que o povo veja como o seu novo herói foi maltratado pelos seguranças (os rumores vão desde ossos partidos a orgulho ferido, com um pouco de tudo o que fica entre os dois). 

A opinião pública sempre foi uma coisa enervante para os regimes autoritários com pretensões democráticas. 
Com os americanos já a dar a corda aos sapatos e poucos amigos internos, Maliki não pode ignorar a opinião pública porque: a) os governos ocidentais acham mal que ele a ignore (o que faria deles apoiantes de um regime não democrático); b) a opinião pública iraquiana vai de AK-47 e RPG para todo o lado e sabe fazer engenhos explosivos improvisados como ninguém. 

O governo iraquiano está de mãos atadas porque ainda tem muito que aprender sobre a verdadeira cultura democrática. Se o caso se tivesse passado numa democracia ocidental, o carácter do jornalista Al-Zaidi já teria sido assassinado publicamente, as suas inevitáveis ligações à Al Qaeda já teriam sido insinuadas há muito, os seus direitos a um julgamento justo já teriam sido anulados pelo seu estatuto de combatente inimigo e as manifestações de rua em sua defesa teriam sido dispersadas pela polícia de choque devido à inevitável presença de elementos radicais violentos entre os manifestantes. 
As ditaduras não têm os mesmos recursos que as democracias para porem os seus cidadãos na ordem. Ou matam ou deixam de meter medo.

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