Atirar o sapato a alguém é o pior insulto que se pode fazer no Iraque. Quando as estátuas de Saddam Hussein começaram a cair, em 2003, multidões de iraquianos correram para as ruas para agredir a imagem do seu ditador com o sapato que tinham mais à mão.
Como Bush já cometeu a proeza de matar mais iraquianos, em nome da democracia, do que o ditador que depôs, a fúria do senhor Muntader Al-Zaidi, na foto, é compreensível.
A tareia que levou a seguir, enquanto Bush gracejava, na sala ao lado, que a democracia era aquilo mesmo, não foi propriamente surpresa: o novo regime iraquiano partilha da cultura de brutalidade da ditadura que o antecedeu, e não aprendeu nada de bom com a superpotência que o instalou no poder.
Muntader Al-Zaidi, sendo jornalista, certamente sabia que não lhe ia acontecer nada de bom. Mas teve pouco tempo para pesar os prós e os contras, ou para praticar: tanto o primeiro como o segundo sapatos falharam o alvo. É por estas e por outras que Bush só visita sítios como o Iraque e o Afeganistão de surpresa.
Na melhor das hipóteses, a carreira de Al-Zaidi está morta. Na pior, ele também. A única coisa que o pode salvar é que o seu gesto desesperado e fútil o torne num herói aos olhos dos seus conterrâneos. O governo Maliki, nunca muito popular, não precisa de criar mais um mártir da liberdade de expressão.
Quanto aos sapatos, reacenderam as esperanças da administração Bush de encontrar as armas químicas que justificariam a invasão do Iraque.
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