sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O feudalismo acabou na quarta-feira


A ilha de Sark, uma das ilhas britânicas do Canal da Mancha, é o último território europeu a abolir o feudalismo. 
Até à realização de eleições no dia 10 de Dezembro, esta pequena ilha foi governada num sistema feudal clássico, como o que se tornou muito popular entre as classes não populares durante a Era das Trevas.
Entre outros privilégios, o senhor feudal da ilha, chamado Seigneur (por tradição e afectação) era a única pessoa que podia ter pombos ou uma cadela não esterilizada. É uma forma de loucura institucionalizada, mas suponho que seja bom para o turismo.

Com apenas 5,45 km2 e cerca de 600 habitantes, a ilha não tem carros nem aeroporto (nem vê necessidade de os ter). Apenas a obrigatoriedade de mudar o sistema, para ficar em conformidade com a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, levou ao processo democrático em curso. 

Sark reeclama também jurisdição sobre uma pequena ilha vizinha, Brecqhou, que é propriedade dos irmãos Barclay desde 1993. Os milionários britânicos conduzem carros e até um helicóptero na "sua" ilha de 80 hectares, à revelia da lei local, e contestam a autoridade de Sark sobre Brecqhou.

As eleições foram vistas como uma oportunidade para mudar este estado de coisas. Prontamente, a ilha dividiu-se em dois campos: os apoiantes do sistema feudal vigente e a lista dos reformistas, aprovada e apoiada pelos irmãos Barclay com o objectivo de mudar radicalmente as leis da ilha, presumivelmente para poderem conduzir à vontade nos seus 80 hectares.

Resultado das eleições?
1º- 57 candidatos, quase 10% da população, concorreram a um dos 28 lugares de Conseiller disponíveis na nova assembleia: apenas 5 candidatos apoiados pelos Barclay foram eleitos. 
2º- Os irmãos anunciaram o fecho de todos os seus negócios em Sark, incluindo hotéis, lojas, agentes imobiliários e empresas de construção. 100 pessoas, um sexto da população, vai ficar no desemprego pelas suas convicções autocráticas. 

Mas deram uma lição de democracia ao mundo: votem no que quiserem desde que não se metam entre um milionário e o seu Bentley.

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