quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Quando o hábito não faz o narcotraficante


As forças armadas americanas sempre tiveram uma aproximação quantitativa à maneira como se faz a guerra, uma atitude comum em países materialmente ricos e com aversão a baixas. 

No Vietname, o progresso do conflito era medido inteiramente em termos de contagem de mortos: se eles perderam dez e nós perdemos um, ganhámos. 
Naturalmente, esta mentalidade resulta numa certa tendência para inflacionar o número de inimigos mortos num dado combate, para procurar ficar bem visto aos olhos dos superiores. 

O maior problema é que os ditos superiores começam a imaginar que as coisas estão a correr melhor do que na realidade. No final da guerra do Vietname os americanos tinham morto mais de 2 milhões de soldados e civis vietnamitas e tido perdas de apenas 55 mil soldados.

Lembram-se de quem ganhou?

Na Colômbia, o General Mario Montoya, comandante em chefe do exército, apresentou esta semana a sua demissão por causa de um escândalo que está a abalar o país (pelos vistos, ainda é possível chocar os colombianos).

Aparentemente, militares sobre o seu comando atraiam gente pobre dos bairros de lata de Bogotá talvez com a promessa de que iam passar a ter onde cair mortos. Os infelizes eram então levados para as zonas de guerra no norte do país, onde eram abatidos, vestidos com uniformes das FARC e quejandos, e rodeados de algum equipamento militar, como uma ou duas Kalashnikovs, para compor a cena. Depois, era só classificar os massacres como vitória contra o narco-terrorismo, contar as cabeças e enterrar os restos em valas comuns.

A morte recente, nestas circunstâncias, de 11 jovens de Bogotá fez o escândalo vir para as primeiras páginas dos jornais, mas o problema já é tão antigo que as vítimas até têm nome: falsos positivos.
27 oficiais e soldados, incluindo 3 generais, já foram demitidos e estão sobre investigação. Mas é preciso procurar mais alto (ou baixo, conforme o ponto de vista) pelas raízes do problema.

O General Mario Montoya foi treinado nos Estados Unidos da América. Todo o exército colombiano, na verdade, segue fielmente o manual de fazer a guerra das forças armadas americanas. Não surpreende, portanto, que muitos dos subordinados do general, com ou sem o seu conhecimento, tenham começado a pensar em formas de inflacionar os números da guerra a seu favor. É aquela mentalidade de querer mostrar serviço, levada a uma conclusão extrema mas nem por isso desprovida de lógica.

A guerra feita por contabilistas dá nisto.

Pormenor: a CIA e o governo dos Estados Unidos analisam as acções das forças armadas colombianas antes de dar o aval ao fornecimento de auxílio militar e económico, que anda à roda dos 500 milhões de dólares anuais. Eles não deviam saber de nada ou não lhes davam o dinheiro. Pois não?

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