quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A recessão dos mortos-vivos


A economia japonesa tem vindo a perder competitividade devido a um fenómeno tão japonês como o hara-kiri ou os gangsters sem o dedo mindinho: as empresas zombie. 
Estas companhias, ineficientes e afogadas em dívidas, são mantidas num estado morto-vivo graças a injecções periódicas de capital por parte desses cientistas loucos que são os bancos japoneses, para assegurar que o país continua a ter um baixo nível de desemprego. A manutenção destas criaturas no mercado, por sua vez, torna mais difícil o crescimento de empresas vivas e saudáveis, arrastando toda a economia para baixo. 

Como os seus congéneres cinematográficos, as empresas zombies arrastam-se lentamente pelos mercados, devorando clientes e fornecedores que não correm o suficiente ou se deixam encurralar numa casa isolada no cimo de uma colina que, por coincidência, fica mesmo ao pé de um cemitério onde um camião cheio de materiais radioactivos teve um acidente. Ou coisa do género.

Os Estados Unidos sempre criticaram os bancos japoneses por estas práticas de reanimação artificial e pelo efeito pernicioso que têm sobre a economia. Deve dar um certo gozo aos japoneses verem agora um godzilla da indústria automóvel como a General Motors pedir ao governo que o salve da falência com uma injecção de capital dos contribuintes. 
O argumento para salvar a GM é o mesmo que foi usado para salvar a A.I.G., a Fannie Mae ou o Freddie Mac: são grandes demais para que os deixem simplesmente morrer e ser enterrados. A GM é mesmo tão grande que até deu em provérbio americano: o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos.
Mas a indústria automóvel de Detroit já recebeu mais do que um bailout do governo, e nunca aproveitou a oportunidade para se actualizar e começar a produzir carros capazes de competir com os europeus e os japoneses. A morte da GM anda a ser anunciada há muito tempo. 

Nada tornaria tão evidente o enterro oficial das "voodoo economics" dos anos Bush como uma General Motors reduzida a companhia zombie. Mas será vantajoso para a economia americana manter artificialmente animado um cadáver em rápida desactualização como a GM? Que tal praticarem um pouco o capitalismo que pregam ao mundo e deixarem a empresa entregue à morte certa da lei do mercado? 
Ou será que vão repetir os erros dos japoneses? Como sabe quem já viu filmes sobre os mortos-vivos, quem se deixa rodear por zombies mais cedo ou mais tarde fica sem ter por onde fugir.

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