quinta-feira, 11 de setembro de 2008

As virgens e os suicidas


O Alcorão promete houris de belos olhos aos guerreiros que morrem em defesa do Islão. De acordo com teólogos de vocação mais contabilística, 72 virgens estão em modo de espera nos Jardins do Paraíso, prontas para receber o falecido herói da fé. O que acontece depois depende da noção de paraíso que cada um tem.

O Alcorão também promete todo o fogo e torturas do Inferno aos suicidas e uma recepção igualmente calorosa e definitiva para os assassinos. Simples, claro e directo. 

Mas não há nada como a criatividade tortuosa e o cinismo de um teólogo de moralidade duvidosa para convencer centenas de jovens desesperados a cometerem suicídio pelo Islão. 

O argumento que eles apregoam é, também ele, muito simples: se houver outra maneira de provocar danos ao teu inimigo, o suicídio está errado. Mas quando se defronta as maiores potências militares mundiais, como os Estados Unidos, Israel ou o Reino Unido, a assimetria de meios militares é tão grande que o suicídio é promovido a martírio e passa a estar inteiramente justificado. E o inferno é trocado pelas tais 72 moças. 

Claro que o erudito teólogo que apresenta o argumento nunca veste um colete com alguns quilos de explosivos antes de subir para o autocarro. A sua missão de arranjar novos mártires para a causa é demasiado importante.

Mas há uma coisa que fica por cobrir: as bombistas-suicidas. Uma mulher nos Territórios Ocupados ou em Gaza pode estar tão deseperada como um homem, ou mais, e ver o martírio pirotécnico como um estilo de morte aspiracional.
O que levanta um problema: se, como diz o Alcorão, homens e mulheres são iguais aos olhos de Deus, os resultados do martírio deveriam ser semelhantes. 

Mas para um recrutador religioso, dizer a uma rapariga que tem 72 mocetões à sua espera no Paraíso pode ser um assunto bastante delicado. 

O futuro do terrorismo talvez esteja no bombismo paralímpico. 
Se um bombista suicida inspira terror, o que pensar de seres humanos que estão dispostos a usar pessoas com deficiências mentais como portadoras de bombas detonadas por controlo remoto? Ao menos não lhes prometem nada.

Falta referir as crianças bombistas, que também as há. 
Se disserem a um miúdo de 9 anos que tem 72 virgens à espera, ele é capaz de não pensar duas vezes e fugir a 7 pés para o pé dos amigos. Talvez lhes andem a prometer um paraíso repleto de Nintendo Wii, XBox e Playstation III, com 72 jogos por estrear. Até eu caía nessa.

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