terça-feira, 23 de setembro de 2008

Uma oferta que eles não podiam recusar


Desde que Bush apareceu em cima de um porta-aviões com uma linda faixa em fundo a dizer Mission Accomplished que a ocupação do Iraque tem sido uma tragicomédia de erros, desinformação e oportunidades perdidas. 
Tropas insuficientes, prioridades trocadas, corrupção, incompetência e um número de danos colaterais que, dependendo de com quem se fala, pode já ter chegado aos 100.000 civis iraquianos, para não falar de milhões de deslocados e mais de 4.000 soldados americanos mortos.

Depois, chegou o General Petraeus, a quem os políticos e comentadores americanos se parecem referir sempre num tom de quase reverência. A sua estratégia, apelidada de Surge alcançou o impossível em tempo recorde. O Iraque não é nenhum mar de rosas, mas também já não é o banho de sangue de há alguns meses atrás.
Até Barack Obama, numa incompreensível inversão de posições, já afirmou em público que o Surge de Petraeus teve um sucesso absolutamente inesperado.

Tudo seria muito lindo se fosse verdade. As tácticas da Al-Qaeda no Iraque, e a reacção das milícias da maioria xiita, alienaram a maioria dos iraquianos sunitas. 

Um acordo foi firmado com as autoridades americanas. Os terroristas impiedosos e impedernidos tornaram-se nas milícias de protecção dos cidadãos de hoje. E a primeira coisa que fizeram foi dar caça aos operativos da Al-Qaeda, enquanto o Surge americano, com meios adicionais em homens e material, separava xiitas de sunitas. O Irão também interveio, dando um contributo significativo, e nunca admitido, à relativa pacificação dos xiitas. 
Os inimigos de ontem tornaram-se nos maiores amigos de hoje.

A verdade é que os americanos pagam agora um ordenado a cerca de 90.000 ex-insurgentes Sunitas para eles ficarem sossegados. É como pagar a um ladrão para não nos roubar a casa, como o dinheiro de "protecção" que se paga à mafia porque a alternativa acaba por ser mais dispendiosa, ou dolorosa. O filme favorito do presidente americano já não é o Rambo, é o Padrinho. 

O que é que vai acontecer quando os americanos deixarem de pagar dinheiro de protecção? 

O governo de maioria xiita não quer integrar 90.000 dos seus inimigos sunitas na polícia e forças armadas. Os americanos não querem, nem podem, continuar a pagar para sempre. Quando a situação rebentar, o que vai acontecer inevitavelmente, todos poderão ver o que o tal de surge foi realmente: o momento em que o governo dos Estados Unidos disse "Se não podes vencê-los, compra-os".

McCain só espera que as coisas se aguentem até Novembro.

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