Abram um jornal de hoje e verão as notícias de ontem. Liguem a televisão hoje e verão as notícias do jornal de amanhã. Mas se querem realmente saber o que vai ser noticiado nos canais de televisão e jornais portugueses, vejam sites de notícias estrangeiros.
Esta afirmação pode ser injusta para os jornalistas que continuam a procurar fazer o seu trabalho, contra tudo e contra todos.
Mas é uma descrição exacta desses meios que cortam nas despesas cortando na sala de redação, substituíndo jornalistas a sério por hordas de estagiários mal pagos, cuja função é navegar na net há pesca de notícias para depois as traduzirem, muitas vezes com erros, incongruências ou asneiras de quem não domina completamente a língua de Shakespeare ou é ignorante e não percebeu do que é que eles estavam a falar.
O fim do jornalismo de investigação é o triunfo do jornalismo de reprodução. Os repórteres já só reportam. O ónus da reflexão e da interpretação passou do transmissor para o receptor.
A única excepção a este triste estado de coisas parece ser o jornalismo desportivo, que possui uma capacidade quase milagrosa de gerar conteúdos sobre futebol até quando não há futebol a acontecer. E basta ler um ou dois artigos para perceber que são escritos por pessoas que sabem realmente do que estão a falar.
Infelizmente, o futebol não é coisa que me fascine, e o triste espectáculo da política portuguesa (que mais ninguém no mundo parece notar ou noticiar, logo, ainda requer algum trabalho jornalístico), também não.
Para saber o que se passa lá fora, prefiro fazer o que os "jornalistas" cá de dentro fazem: jornalismo de navegação.
Assim sempre me antecipo um dia ou dois e não tenho de perder tempo a tentar perceber que raio de coisa estaria escrita no original da notícia mal traduzida que tenho à frente.
Que futuro têm os jornais se hipotecam a sua capacidade de gerar conteúdos e apenas reproduzem a informação de meios mais rápidos do que eles?
A propósito, quanto tempo mais durarão os sites de jornais que dão notícias de graça?
Perdem leitores nas edições de papel e não ganham nada com os leitores da edição digital. As receitas da publicidade nos sites não são e nunca vão ser suficientes para pagar as despesas de operação, muito menos para dar lucro.
Se começam a cobrar, as pessoas vão a outro site: "porque é que havemos de pagar se podemos ter de graça?" E há sempre um site mais além que não cobra nada, ou que se limita a ir buscar os conteúdos a outros sites e não tem de pagar a ninguém para pensar.
Há uma resposta?
Pergunta o gestor com visão de futuro: "Quanta gente ainda ficou por despedir na sala de redação?
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