Quando conheceu Sarah Palin, a América ficou apaixonada.
Ela é atraente. Ela tem uma família numerosa e feliz (já lá vamos).
Ela tem um bebé com síndroma de Down. Mais importante para o seu eleitorado natural, ela não fez um aborto quando soube que estava grávida de um bebé com síndroma de Down.
Ela tem uma filha adolescente grávida que vai ter a criança e casar, deixando de praticar o pecaminoso sexo pré-marital e mostrando todo o sentido de responsabilidade que não teve quando fez sexo sem protecção.
Ela vive entre a Rússia e o Canadá, fazendo dela a candidata com mais experiência internacional (esta é boa demais para ser inventada).
Ela caça e bebe como os homens de barba rija e diz que já é altura do "Joe Six-pack" (Zé Povinho, mas com muita cerveja e uma caçadeira à mistura) estar representado na Casa Branca.
Ela é uma ex-candidata a Miss Alaska, a última fronteira americana, onde as pessoas são rijas e sabem como viver do que a terra dá (e dos subsídios do governo central: per capita, mais que qualquer outro estado americano).
Ela acredita no creacionismo (e é a prova viva que a evolução não afecta algumas criaturas).
Ela tem a certeza que o fim dos tempos está a chegar e que vai ser uma das eleitas de Deus (os democratas e republicanos mais abichanados serão consumidos pelo fogo).
Ela é a republicana perfeita: agressiva, conservadora até à estupidez, flexível quando convém (ver filha adolescente grávida), fundamentalista religiosa e populista: a única diferença entre ela e um pitbull, segundo a própria, é o batôn.
Ela é de uma cidade pequena, onde os valores ainda são autênticos, as pessoas genuínas e os anos 60, 70, 80, 90 e 0 nunca aconteceram.
Ela é patriota e os que não são como ela não são, e talvez sejam terroristas.
Ela acha que há livros que deviam ser banidos, não vão corromper as mentes frágeis das crianças com ideias como sexo antes do casamento e outras porcarias, como a capacidade para pensarem pelas suas próprias cabeças.
McCain arranjou a candidata perfeita para motivar os republicanos menos empenhados na sua candidatura. Depois de, sem sucesso, procurar o apoio de pregadores extremistas e passar a ser contra o aborto, ele precisava de fazer algo realmente radical para conseguir o apoio da ala mais conservadora (ler fundamentalista) do partido.
O problema é que escolheu bem demais. Sarah Palin é mesmo tão ignorante, boçal, mal-formada e deficientemente informada como parece, para não falar de defeitos mais importantes como acusações de corrupção, má gestão de fundos e abusos de poder.
Assim que Sarah Palin começou a falar em público (sem a muleta de um discurso ensaiado), até analistas republicanos mais normais começaram a confessar um certo embaraço com a escolha do seu partido para vice-presidente.
Quanto aos democratas, que de pitbull não têm nada, continuam sem saber como lidar com ela.
Por um lado, gostam que Palin seja tão desadequada para o cargo que faz Obama parecer um poço de experiência por comparação. Por outro, têm medo de atacar a sua falta de experiência, não vão as pessoas reparar que Obama também não é exactamente um colosso nesse campo.
Com receio de serem acusados de elitismo, sexismo e falta de patriotismo, os democratas vão hesitar no ataque directo até ao dia das eleições. É a sua natureza, um misto de cobardia (se não fizermos talvez eles não façam), ingenuidade (ver o aparte anterior) e mania de que estão acima dessas coisas.
E se ela ganha, e se o mundo acaba, e se os rumores de que John McCain tem cancro forem verdade, e se ele morre ou fica incapacitado, e se ela for a próxima presidente dos Estados Unidos da América?
Agora que conhece Sarah Palin melhor, a América ficou preocupada.
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