Entre San Diego e Tijuana começa uma linha que separa as terras que os mexicanos perderam das terras que conseguiram conservar. Um obelisco assinala o ponto onde uma equipa de agrimensores dos dois países iniciou, 160 anos atrás, a transcontinental tarefa de determinar, exactamente, onde a fronteira ficava.
Hoje, as comunidades dos dois lados da fronteira reúnem-se à sombra do obelisco, numa zona que se tornou conhecida como Friendship Park.
Uma simples vedação assinala a fronteira neste local, dividindo o parque ao meio mas permitindo que as pessoas conversem umas com as outras com uma facilidade que não existe em quase mais nenhum lado da longa fronteira entre os dois países.
Claro que não são apenas beijos, tacos, saudades e boa vontade que são trocadas no local.
Segundo a patrulha fronteiriça americana, as facilidades de comunicação do parque são outras tantas oportunidades para traficantes e outras pessoas de má índole abusarem da lei.
A única solução é a solução do costume: querem fazer uma barreira mais a sério, que impeça as pessoas de se tocarem, de preferência com uma zona de ninguém e muito arame farpado para dificultar ainda mais a passagem e ajudar a manter as distâncias.
Como sempre acontece por estes dias, a segurança, seja contra o terrorismo seja contra a a concorrência mexicana no mercado de trabalho, é a única preocupação a ter algum peso. O que importa a vida das famílias que precisam do parque para terem um simulacro de vida em família? A segurança nacional fala sempre mais alto. Ou talvez seja apenas xenofobia mal disfarçada.
Há que manter os mexicanos do lado sul na linha e fazer de conta que as pessoas do lado norte não são mexicanos também, parte de uma comunidade que se vai mantendo em contacto à sombra de um monumento erigido à sua separação oficial.
Depois de anos de embargo à África do Sul por causa do Apartheid, depois de décadas de conflito com o mundo comunista por causa da Cortina de Ferro, a América está a perder a autoridade moral que tinha e a recorrer às soluções que antes criticava como próprias de regimes opressivos.
Fazer muros e fingir que não se passa nada do outro lado parece ser a solução para tudo.
Também a europa está dividida entre a necessidade económica de importar 20 milhões de trabalhadores nos próximos anos só para manter a economia em crescimento, e a necessidade política de agradar a um eleitorado crescentemente xenófobo.
Nomes como Parque da Amizade estão destinados a tornaram-se piadas de mau gosto, relíquias de uma época mais ingénua (ou inocente, depende da maneira como vemos o mundo).
Mas é como diz a anedota:
Se não deixam os mexicanos entrar, quem é que vai construir o muro?
Sem comentários:
Enviar um comentário