segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O galo afegão


Nos anos 80, os afegãos tornaram-se a menina dos olhos dos americanos. Invadidos pelo Império do Mal da altura, a União Soviética, eles tinham pegado em armas em condições de enorme inferioridade técnica e conquistado a admiração e apoio de todo o Mundo Livre.

Eram Combatentes da Liberdade contra a opressão comunista, guerreiros de Deus contra o ateísmo soviético. O Afeganistão ia-se tornar no Vietname dos comunistas e até o Rambo lá foi dar uma ajuda, para que não houvesse dúvidas.

20 anos depois, é tudo diferente.
Os combatentes da liberdade são senhores da guerra corruptos e brutais e os guerreiros de Deus são talibãs fanáticos. Mas está tudo na mesma. O país continua pobre e em guerra, a exportação de ópio continua a ser maior fonte de receitas e os afegãos continuam intratáveis.

Agora, é a vez de uma nova superpotência, a América, aprender a lição que não tirou dos livros de história, dos noticiários dos anos 80 ou do Rambo III: é má ideia invadir o Afeganistão.

Anos depois da intervenção da Nato, a Al Qaeda está firmemente restabelecida na terra de ninguém que são as áreas tribais junto à fronteira, a popularidade e eficácia militar dos Talibãs estão a aumentar, as baixas de militares ocidentais já são mais elevadas do que no Iraque e a guerra começa a extavasar para o Paquistão, cujo controlo é o grande objectivo dos fundamentalistas e que é uma potência nuclear notoriamente instável.

Oficias britânicos, que percebem uma coisa ou duas de contra-insurreição, já afirmaram que o problema afegão não tem solução militar. O presidente do Afeganistão (mais precisamente, de Cabul e arredores) já se reuniu discretamente com representantes dos talibãs na Arábia Saudita, o reino absolutista que comete diariamente a proeza de financiar os talibãs e ser aliado dos Estados Unidos.

Os americanos condenam as visões pessimistas dos seus aliados britânicos como derrotistas e prometem que, com mais tropas, vão alcançar a vitória final. Como aconteceu no Vietname, o tempo que eles persistirem neste caminho vai determinar as dimensões finais dos estragos.

Independentemente de quem ganhar as eleições americanas, o próximo presidente vai acabar por ter de aceitar que talvez uma solução diplomática seja inevitável.

Depois dos 7 anos de “não negociamos com terroristas” e de “ou estão connosco ou contra nós” de Bush, os afegãos estão prestes a conseguir o que parecia impossível: pôr um fim à relutância americana em encontrar soluções negociadas para problemas que pode bombardear.

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