quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O reconhecimento tem um preço (negociável)



Nauru é a mais exótica das ilhas dos mares do sul.
Durante séculos foi uma espécie de WC para todo o tipo de aves marinhas, que cobriram a ilha com uma camada espessa de guano, a forma mais comercialmente valiosa que a caca pode assumir. Depois chegaram os europeus e a verdadeira merda começou.

Hoje, uma faixa de areia branca seguida de uma estreita linha de coqueiros marca o perímetro da ilha. O resto dos seus 21 km2 é uma mina de fosfatos no final do seu ciclo de vida comercial. Vista do céu, a ilha é como um donut composto quase exclusivamente de buraco, uma catástrofe ecológica que é uma lição sobre o que acontece quando colonialismo e capitalismo selvagem são levados às últimas consequências.

Mas a ilha encontrou uma nova fonte de rendimentos: em 2002, cortaram relações diplomáticas com Taiwan em troca do pagamento de 130 milhões de dólares pela China comunista. Numa notável demonstração de capitalismo diplomático, voltaram atrás 3 anos depois, presumivelmente em troca de uma oferta melhor.
Agora, a pequena ilha com assento nas Nações Unidas tornou-se a quarta nação do mundo a reconhecer a independência da Abecázia. Por coincidência, a Rússia ofereceu recentemente 50 milhões de dólares em ajuda humanitária a Nauru, ou um pouco mais de 4,416 dólares por cada um dos 11 mil 320 habitantes da ilha. Também por coincidência, o ministro dos negócios estrangeiros de Nauru visitou este fim de semana a Ossétia do Sul (a outra republica separatista da Geórgia com dificuldades de reconhecimento). Ainda não se sabe se está incluída no preço ou se os russos vão ter de pagar um pouco mais.

Quanto será que eles cobram pelo reconhecimento da soberania portuguesa sobre Olivença?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Quanto mais as coisas mudam



OK, o Dubai comprou mais do que podia e agora está sem dinheiro, mas há-de recuperar, ou não.
Nada disso me interessa muito. O que eu acho interessante é ver que os árabes, neste e noutros cartoons de hoje, são representados exactamente como os judeus eram antigamente (até 1945). Parece que todos os árabes têm nariz grande e ar de fuinha, tal como todos os judeus tinham (até 1945). Foi só pôr uma toalha por cima e servir de novo.
Está bem que é tudo semita, mas porque é que não é tudo anti-semitismo?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

As coisas estão a aquecer (ou não, depende com quem se fala)


Havia o risco da conferência sobre o aquecimento global de Copenhaga dar em alguma coisa. Afinal, até os maiores poluidores, como os Estados Unidos, aceitam finalmente que nem tudo no futuro do planeta é cor de rosa. Era desta que os dirigentes mundiais iam fazer qualquer coisa.

Era preciso fazer alguma coisa.
Naturalmente, e por pura coincidência, começaram a aparecer entrevistas com cientistas reputados que dizem que as coisas não são bem assim, e escândalos atempadamente desacreditando cientistas. A malta do “eu sabia que o aquecimento global é treta” está a sair dos buracos outra vez, com aquele ar triunfante de quem acha que ganha quando os outros perdem.

A tendência para o alarmismo apocalíptico dos media (ver a gripe suína) também não ajuda. Meia hora de programação e até o mais convicto seguidor do Al Gore começa a achar que se calhar andam a exagerar um pouco.

Não importa que os dados científicos sejam considerados incontroversos já há alguns anos, pela esmagadora maioria da comunidade científica. Tal como a teoria da evolução, o aquecimento global é uma daquelas coisas que, por muita evidência que tenham a seu favor, vai sempre ser controversa. Porque vão contra os interesses estabelecidos de muitas corporações (empresas, igrejas) e porque, ao contrário do clima e das espécies, há coisas que não evoluem.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Perfeito sentido de oportunidade


Obama vai enviar mais 30.000 soldados para o Afeganistão. A cerimónia de entrega do prémio Nobel da Paz é já para a semana. O mundo às vezes parece um sketch dos Monty Python inspirado nesse grande comediante checo, Franz Kafka.

A propósito:
Ao acreditar apaixonadamente em algo que ainda não existe, estamos a criá-lo.
Franz Kafka

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Déjà vu


Como acabar com a guerra no Afeganistão, que já leva 8 anos e está a ficar cada vez pior?
Depois de meses de hesitação, Obama decidiu finalmente o que fazer. A sua solução? Enviar mais tropas, para resolver as coisas de vez.
O último presidente que teve esta ideia luminosa chamava-se Lyndon B Johnson, e a sua guerra foi o Vietname.
Toda a gente sabe como essa história acabou.
Como é que é a frase? Aqueles que ignoram a história estão condenados a repeti-la?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

As voltas que o mundo dá


No NY Times de hoje vem um artigo sobre uma nova e inesperada tendência: famílias mexicanas, pobres e/ou remediadas, estão a enviar remessas de dinheiro para os Estados Unidos para suportar os seus familiares desempregados.

Moral da história: até em tempos de crise os americanos conseguem sacar o dinheiro dos outros.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ser herói já não é o que era




Para ser um herói nos tempos que correm basta estar no lugar errado à hora errada.
O conceito muito americano de celebrar as vítimas de um tiroteio como se fossem heróis fica mais ridículo e patético quando se muda a perspectiva.

Medo


É impressão minha ou o número de malucos que falam sozinhos na rua aumentou muito desde a invenção do bluetooth?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Energias alternativas


6% da electricidade nos Estados Unidos tem origem hidroeléctrica. As energias solar, eólica, de biomassa e geotermal, todas juntas, correspondem a 3% do total. Mas a energia alternativa, não poluente e realmente rentável, responsável por 10% de todo o consumo de electricidade do país que consome mais electricidade do mundo, é uma relíquia da Guerra Fria.

Os tratados de desarmamento nuclear entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética levaram ao desmantelamento de milhares de ogivas nucleares.
O material recuperado das bombas, urânio e plutónio da melhor qualidade, tornou-se na mais rentável e fiável fonte de combustível para centrais nucleares desde o fim da União Soviética, resolvendo o problema do que fazer às bombas desmanteladas.
Hoje, 45% do combustível utilizado pelos 104 reactores nucleares civis americanos continua a vir de bombas soviéticas recicladas, com mais 5% a ser feito a partir de bombas americanas. O programa até tem um nome: Megatoneladas para Megawatts. O único problema é que, tal como o petróleo (e apesar da dimensão dos arsenais nucleares das duas superpotências), este recurso não é renovável.

Parece que o plano de Obama de reduzir ainda mais os arsenais das duas superpotências nucleares é a forma utilizada pelo Prémio Nobel da Paz para não só começar a justificar o prémio como também resolver parte da crise energética.
Mas para assegurar uma provisão de combustível duradoura, se calhar os EUA deviam era deixar os iranianos e coreanos juntarem-se aos paquistaneses, indianos e israelitas e fazerem ainda mais bombas.
Uma vez o combustível assegurado, restava fazer a paz na terra entre os homens de má vontade. Se calhar até ganhava um novo Nobel.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Massacre no Texas


Nidal Malik Hasan nasceu nos Estados Unidos da América. Contra os desejos dos seus pais, alistou-se no exército americano porque desejava servir o seu país (e o serviço militar é a única forma de pagar uma educação superior para muitos americanos)
Formado em psiquiatria, o major Nidal Malik Hasan era, até ontem, responsável por fazer a avaliação psicológica de soldados traumatizados pelas guerras do Iraque e Afeganistão, em Fort Hood no Texas. Compreensivelmente, este conhecimento repetido dos horrores da guerra fez o major perder toda a vontade de servir o seu país, pelo menos nos acima mencionados cenários de guerra. O facto de os seus camaradas o terem começado a perseguir depois dos ataques do 11 de Setembro por ser muçulmano também não ajudou.
O major Hasan, segundo os primeiros relatos, foi informado que ia ser colocado brevemente no pior dos ultramares damericanos, o Afeganistão.
Como qualquer americano com acesso a armas e um problema que não quer enfrentar, passou-se e desatou aos tiros na base onde estava colocado.
13 mortos e 30 feridos depois, as pessoas começaram a falar da sua ascendência árabe, religião, etc.
Mas o facto de este tipo de actos ser comum na muito violenta sociedade americana demonstra que, apesar do que o seu nome possa dar a entender, este descendente de palestinianos nascido na Virgínia não é um terrorista. Tal como todos os outros imbecis que reencontram Deus e desatam aos tiros no local de trabalho ou na escola onde andam, ele é um americano de gema.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

É a crise


Economia chinesa cresceu apenas 8,9 % no terceiro trimestre de 2008.
O resto do mundo não sabe se deve rir, chorar ou aprender mandarim.

Destinos de férias


Rio de Janeiro, Brasil, 6 milhões de habitantes. 4,631 assassinatos em 2008.
Ciudad Juaréz, México, 1,5 milhões de habitantes: 1,986 assassinatos em 2009 (por enquanto).
Nova Iorque, EUA, 8 milhões de habitantes: 523 assassinatos em 2008.
Portugal, 10 milhões de habitantes, 247 assassinatos.

Vá para fora cá dentro.

Food for thought


Há 1,02 mil milhões de pessoas com fome no mundo, segundo as Nações Unidas, ou cerca de uma pessoa em cada sete.

Há cerca de 72 milhões de adultos obesos nos Estados Unidos, segundo dados do CDC (Centros de Controlo e Prevenção de Doenças), ou cerca de um terço da população total.

Há qualquer coisa que não está bem nestas estatísticas.

Ainda vai dar em casório


A Igreja Anglicana (que se separou da Católica não por questões de doutrina mas sim porque o rei inglês da altura se queria divorciar e casar com outra) tem Bispos homossexuais (assumidos) e mulheres a celebrar missas. Naturalmente, este estado de coisas escandaliza muita da congregação.
Para o décimo sexto Pio, há aqui uma oportunidade de negócio: assim, a igreja Católica convidou os bispos anglicanos descontentes, e seus rebanhos, a regressarem à casa mãe.
A chegada dos bispos anglicanos mais conservadores pode ter o efeito inesperado de liberalizar a igreja católica numa questão essencial: na igreja Anglicana (tal como na Ortodoxa) os padres podem casar e muitos partilham a devoção ao Cristo com a dedicação às esposas. Ou não, que a carne, às vezes, é fraca. Como não parece que eles se vão divorciar só para se tornarem católicos, a excepção que terá de ser aberta arrisca tornar-se regra universal (ou católica, como diziam os gregos).

Permitir que os padres se casem pode ter o efeito positivo de levar mais pessoas normais a entrarem no sacerdócio, e diminuir um pouco a atracção que a igreja parece ter para os tarados.
É curioso ver uma igreja que se tornou notória pelos seus padres pedófilos (e pela forma como os tenta proteger da lei) apelar à moralidade da ala mais conservadora da igreja anglicana.

Um padre católico com problemas conjugais vai ser uma mudança refrescante dos padres com problemas legais. Agora, mulheres padres é que nunca.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os talibãs e o mafioso


Segundo o Times de Londres, os serviços secretos italianos pagaram aos talibãs para manter a paz numa zona do Afeganistão onde tropas italianas estavam colocadas.

Naturalmente, não informaram os seus aliados desse facto.

Assim, quando os italianos se foram embora, as tropas francesas que os substituíram descobriram, da pior maneira, que a zona estava muito longe de estar pacificada: pouco tempo depois de chegarem, um ataque vitimou 10 soldados franceses.

Berlusconi nega qualquer veracidade no relatório e acrescenta que se tivesse acontecido teria sido certamente durante o governo anterior.

Prémio nobel da Paz, numa perspectiva afegã



Gosto em especial do logo da Hello Kitty.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

isto é que é eficiência


A Baxter International, a empresa que desenvolveu a vacina contra a estirpe H1N1, pediu a patente para a dita cuja a 28 de Agosto de 2008. A patente foi publicada em Março de 2009. O vírus apareceu no México, prontamente, em Abril.

Sete meses antes do problema aparecer já havia uma solução. Segundos depois do problema aparecer já se falava em pandemia e campanhas de vacinação globais.

Como 1+1 costuma ser igual a 2, aqui há gato.

A invasão do Iraque explicada (e a do Irão também)


O mundo inteiro é forçado a pagar o modo de vida americano, de uma maneira ou doutra, por causa do petro-dólar. Isto, e não Bush ser atrasado mental, explica muita da história recente. Os Estados Unidos são um império feito de papel, sim, mas é de papel-moeda e são eles quem tem a impressora.

A decisão de invadir o Iraque foi tomada muito antes do 11 de Setembro, a ligação Saddam Hussein-Al Qaeda foi totalmente fabricada, a existência de armas de destruição maciça também. Isto são factos que se tornaram do domínio público há muito tempo (nalguns casos, antes mesmo da invasão de 2003).

Este filme é uma teoria (da conspiração) que provavelmente é a explicação mais válida para as verdadeiras razões por trás das guerras dos anos Bush. E também para as guerras que o Nobel da Paz vai ter de travar, para não ser recordado como o homem que presidiu ao fim do império americano.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

I have a cunning plan


O plano diabólico do partido republicano para recuperar a presidência já está em curso. E está a correr sobre rodas.

Não é burro nenhum



Contrabandear uma zebra através de um túnel para a Faixa de Gaza custa cerca de 40 mil dólares. Sem dinheiro para o fazer, o dono do Jardim Zoológico Marah Land fez o que os palestinianos (e todas as pessoas que se vêm sem saída) fazem melhor: improvisou.
Um pouco de fita adesiva para fazer as riscas e muito restaurador Olex depois, o pequeno Zoo era o orgulhoso proprietário de duas zebras, para fazer companhia a uma tigre já na terceira idade, 2 macacos, alguns pássaros, coelhos e gatos. Todos genuínos, aparentemente.
Como as crianças locais nunca viram uma zebra a sério, a transformação foi um sucesso. O Hamas é que ainda acaba acusado de crueldade para com os animais.

Ora pro Nobel


Se ganha o Nobel da Paz pelas suas palavras, que distinção é que lhe vão atribuir quando (e se) as suas acções fizerem de facto qualquer coisa pela paz no mundo? Depois da selecção do distinto Comité Nobel nomeado pelo parlamento norueguês, a única organização à altura que resta é o Vaticano. Obama ainda acaba a fazer companhia aos 3 pastorinhos e à Madre Teresa. Numa notícia relacionada, morreram 17 pessoas ontem em mais um ataque bombista em Cabul, sem fazerem a mais pequena ideia de quem ganhou prémio Nobel da Paz este ano.

It’s déjà vu all over again


“THE fundamental reasons why the electric car has not attained the popularity it deserves are (1) The failure of the manufacturers to properly educate the general public regarding the wonderful utility of the electric; (2) The failure of [power companies] to make it easy to own and operate the electric by an adequate distribution of charging and boosting stations. The early electrics of limited speed, range and utility produced popular impressions which still exist.”

Publicado na revista Electrical World. Em 1916.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Roman de cordel


Se eu fosse pai de uma miúda de 13 anos e um tipo qualquer de quarenta e tal a forçasse a ter sexo depois de a embebedar e/ou drogar, eu iria querer vê-lo na prisão, no mínimo. Nem que ele só fosse apanhado 30 anos depois, na Suíça. E se eu o apanhasse, no entretanto, o mais provável era ir parar à prisão no lugar dele.
O facto de o dito cujo homem ser um realizador de sucesso, tanto de critica como de bilheteira, não faria qualquer diferença.
O facto de que faz, pelo menos para as elites intelectuais francesas (mas não só), mostra bem como, em certos círculos, a moral é uma coisa relativa à posição social.
Os americanos podem ser demasiado moralistas e os suíços demasiado rigorosos, mas os franceses são demasiado reverentes e permissivos em relação aos seus artistas (mesmo que sejam de origem polaca).
O mundo pode ser cinzento, mas há coisas que não podiam ser mais a preto e branco.

ps: tenho quarenta e tal e sou pai de uma miúda de 12 anos.

Never ending story


O governo Obama recusa libertar alguns prisioneiros de Guantanamo que sabe estarem inocentes.
Porquê? Porque estarem presos sem terem feito nada e sem culpa formada durante anos podem tê-los transformado em pessoas amargas e anti-americanas. Mais vale prevenir. Kafka ficaria inspirado.

Isto está a ficar meio estúpido


Por causa da gripe suína, igrejas católicas em Nova Iorque deixaram de partilhar o cálice de vinho com a congregação. Todos os católicos praticantes que já viveram participaram neste ritual de contornos canibalescos, e todos eles tinham a boca cheia de bactérias, micróbios, vírus, aftas, abcessos, cáries, etc. O facto da tradição duas vezes milenar de beber o sangue de Cristo só ser interrompida, agora, por motivos de saúde pública é mais uma prova (inteiramente desnecessária) do poder de criar pânico dos media.
Se virmos noticiários suficientes, é fácil ficar com a impressão de que esta nova gripe, que é menos mortífera que a gripe sazonal, é a maior catástrofe que já caiu sobre a humanidade. Ao menos podiam assumir-se e dizer no fim dos noticiários: esta informação de interesse público é patrocinada por Panadol Antigrippine.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Visite já, antes que acabe



Encruzilhada de civilizações, cadinho de culturas, etc.
Todas estas expressões se aplicaram, em tempos, ao Afeganistão contribuindo para um acervo arqueológico notável. Depois vieram as guerras, para ficar.

O Museu Nacional do Afeganistão, em Cabul, celebra a devolução de cerca de 2000 artefactos, roubados e contrabandeados para o Reino Unido durante a guerra civil e agora devolvidos à procedência. Não são os primeiros: mais de 13000 artefactos roubados tinham já sido devolvidos ao Afeganistão, desde 2001, por países tão diversos como Os Estados Unidos ou a Suíça.

OK, sou sempre pela devolução de artefactos roubados aos seus legítimos proprietários (como os Mármores de Elgin, roubados do Parténon, conhecidos pelo nome do ladrão e ainda por devolver).

Mas o que é que vai acontecer a todos estes artefactos quando os talibãs voltarem ao poder? Os “estudantes de teologia”, financiados pela Arábia Saudita (logo doutrinados no wahabismo mais imbecil), tornaram-se notórios pela primeira vez com a destruição das estátuas gigantes do Buda, em Bamiyan. Onde uma pessoa normal vê arte, o wahabi anormal vê heresia e idolatria. Não se pode falar de proteger uma herança comum da humanidade com um tipo que não sabe o que humanidade é.

Mas faz de conta que os talibãs não voltam ao poder: 70% dos artefactos do Museu foram roubados durante os anos de guerra civil pós saída dos soviéticos. Se não fosse o governo comunista ter escondido uma parte da colecção antes de sair do poder, os números seriam muito mais dramáticos.

Quando não é tacanhez por deformação religiosa, é avareza por deformação moral. Há povos que não merecem os antepassados que tiveram.

A guerra mais longa



Já só faltam 6 meses para fazer desta guerra a mais longa da história americana. Os Estados Unidos celebram 8 anos de guerra do Afeganistão já amanhã, e não parece que vão sair de lá tão cedo. Ou que sejam capazes de decidir uma estratégia clara brevemente. Ou que estejam sequer perto de esclarecer exactamente o que poderá ser considerado como uma vitória.
Os paralelos com a guerra do Vietname (a actual detentora do título) começam a minar a administração Obama, tal como fizeram com as de LBJ e Nixon.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Lula 1 - Obama O


O Rio de Janeiro ganhou a organização dos Jogos Olímpicos de 2016.
É mais um sinal do poder emergente do Brasil (apetece dizer até que enfim). É mais um prego no caixão do carisma de Obama.

Mas do que eu gostei mais nesta disputa amigável foi do nome dos presidentes dos dois maiores países da América (o Canadá é maior mas não mora lá ninguém).

Lula e Obama.

Apenas há um ou dois anos, se alguém dissesse que o homem mais poderoso da américa do sul se chamaria Lula e o mais poderoso da américa do norte (e do mundo) se chamaria Obama, diziam que não éramos bons da cabeça.

Uma imagem vale por mil terroristas



Israel trocou 19 prisioneiras palestinianas por um vídeo de 2 minuto e meio que mostra Gilad Shalit (o sargento raptado pelo Hamas em Junho de 2006) de boa saúde.

É frequente Israel soltar centenas de prisioneiros por um ou dois soldados, ou mesmo pelos cadáveres de soldados. Os palestinianos sabem bem disso, e tentam sempre obter o melhor negócio possível.

No que toca a trocas de reféns, sempre houve uma enorme diferença entre o valor de vidas israelitas e palestinianas. Estas diferenças não acontecem por a vida de um israelita ser mais importante (é, mas só para os israelitas) mas simplesmente porque é muito difícil e ainda mais raro que os palestinianos consigam apanhar algum, vivo ou morto.

Quando o fazem, fazem-no render o mais possível: se por um DVD de Gilad Shalit o Hamas recebe 19 mulheres, pela sua libertação pedem até 1000 prisioneiros (de preferência antes das eleições de 2010). Pode parecer muito, mas Israel tem 11 mil prisioneiros palestinianos (alguns até são terroristas) para a troca.

Se acrescentarmos a esta contagem de cabeças os mais de 1000 mortos da recente invasão da Faixa de Gaza (desencadeada, entre outras coisas, para libertar o sargento Gilad) as contas finais deste caso tornam-se ainda mais absurdas.

Os governos de Israel sempre negociaram com os seus terroristas. O caso de Shilat está a demorar mais porque ainda não foi encontrado o preço certo, isto é, o número de prisioneiros que pode ser apresentado pelos dois lados como um triunfo. Mas se há coisa que toda a gente sabe fazer no Médio Oriente é regatear. E árabes e israelitas são mais parecidos do que gostam de admitir.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Parabéns?



Depois de 60 anos de fomes catastróficas por má gestão (uma prática também conhecida como colectivização forçada, ou comunismo), décadas de atraso em todos os parâmetros pelos quais se mede o progresso humano, milhares de purgas, milhões de reeducações (também conhecidas como campos de trabalhos forçados para intelectuais), uma revolução cultural que arrasou uma grande parte do legado de uma cultura milenar e, a completar o ramalhete, uma conversão apressada ao capitalismo mais selvagem, a China de Mao (e de outros torcionários) celebra hoje os seus 60 anos, com toda a pompa, excesso e precisão militar que só um estado totalitário pode proporcionar.
As celebrações podem fazer lembrar as cerimónias de abertura dos jogos olímpicos no ano passado. Mas enquanto as Olimpíadas de Pequim celebravam a nova abertura da China ao mundo, as comemorações de hoje relembram a verdadeira natureza do estado.

Com um bocado de sorte, a reforma chega aos 65.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Morte por panfleto


Dia 23 de Junho, uma rapariga afegã foi o primeiro habitante da conturbada província de Helmand a sentir todo o peso da mais recente campanha de lançamento de panfletos da Nato.
A moça ia a caminho de Al-Merdaleja de Baixo quando um monte de folhetos lhe caiu em cima, lançado de grande altitude por um avião da RAF. O poder da palavra escrita e a força da gravidade, juntos enfim na guerra contra o terror.

Como as forças da Nato não sabiam que tinham alvejado mais um civil, a rapariga foi levada para o hospital local, onde as hipóteses de sobrevivência não eram (e não foram) as melhores. É interessante descobrir que para receber tratamento médico adequado no Afeganistão, é preciso ser identificado primeiro como dano colateral.

Ao menos toda a gente na região ficou a saber que se tem de preocupar tanto com as minas como com os panfletos que os alertam para o perigo das mesmas.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Assim, se vê, a força do ballet



"Mulheres do Destacamento Vermelho", um bailado de inspiração obviamente comuna, encenado a propósito da celebração dos 60 anos do regime. Aguardam-se mais imagens de rara beleza e coordenação motora para esta quinta feira.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cambada de jingoístas



Quando toda a gente que vai à guerra é um herói, ninguém é. Farto de ver qualquer tipo que esteve perto de uma zona de combate ser automaticamente considerado como um herói. Antigamente, era necessário fazer qualquer coisa de notável, fosse pelo espírito de sacrifício, fosse pela inconsciência.

Agora, basta estar lá, que as máquinas de propaganda fazem o resto. Por um lado exaltam a coragem e o sacrifício de combater no Afeganistão sem chuveiros aquecidos (já vi, na TV). Pelo outro, demonizam o inimigo e relativizam o seu sofrimento, explorando aquele bom e velho sentimento do "aquela gente já está habituada, não sentem as coisas como nós".

Tarde demais?


De visita à Chéquia, uma das nações menos religiosas do mundo (50% não acredita em Deus de todo e apenas 30% dizem praticar alguma forma de religião) o Papa alertou o mundo para o perigo de viver numa sociedade sem Deus.
E qual é o perigo? É que as pessoas percebam que não precisam de Deus para serem morais, espirituais e perfeitamente felizes.

Medo. Ou não



O presidente mais simpático e consistente de todos os tempos. Ou o mais robótico e calculista.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Tiros no pé


Netanyahu defendeu a veracidade histórica do Holocausto nas Nações Unidas, mostrando provas e tudo. Não contente por mostrar ao mundo que sente necessidade de provar o inquestionável, estabeleceu ainda um paralelo entre o Hamas e os nazis, fazendo todas as pessoas normais pensar no assunto e chegar à conclusão que, a haver um paralelismo, seria sempre com o poderoso exército ocupante do estado de Israel.

Comparar os primitivos foguetes Qassam do Hamas (que mataram um total de 18 pessoas em 8 anos) com a poderosa Luftwaffe (que provocou mais de 40,000 mortos e destruiu mais de 1 milhão de casas durante o blitz) tem o mesmo efeito.

E é tão ridículo que não transforma o Hamas num monstro. Quando muito, faz os monstruosos nazis parecerem patuscos.

Guerra assimétrica



Morreram mais 5 americanos no Afeganistão, um total de 34 só em Setembro. O general McChrystal, comandante no terreno, pediu mais 40 000 homens para que a situação não fique fora de controlo, de vez.

Esta foto é uma boa representação das diferenças tecnológicas entre afegãos e as forças da Nato. Olhando para ela, no entanto, dá a sensação que é o camião que está a fugir do velhote no seu burro.

Depois do Império Briânico, da União Soviética, de Alexandre Magno e de outros invasores menos ilustres, parece que os eternos tomba-gigantes da Ásia central estão prestes a fazer mais uma vítima notável. Não por terem mais capacidade militar mas porque são burros teimosos e as potências invasoras, mais cedo ou mais tarde, dão pela sua determinação a entrar na reserva.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A melhor notícia do milénio, para já (ou não)


O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou unanimemente uma resolução com o objectivo final de livrar o mundo de armas nucleares.

Com o apoio dos Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França (todas as potências nucleares tradicionais), a resolução poderá levar a um mundo livre de armas nucleares, um mundo melhor no qual as resoluções da ONU servem para qualquer coisa. Mas adiante.

Ao combinarem abolir os seus arsenais, as potências nucleares estão a abdicar voluntariamente do seu poder de matar toda a gente no planeta se forem contrariadas. Os ingleses e franceses, em particular, nem sequer continuarão a ter uma razão legítima para serem membros permanentes do Conselho de Segurança em vez de nações como a Índia ou o Brasil.

É lindo. No entanto, como nunca vi um país abraçar voluntariamente a irrelevância, fico com a sensação que o principal objectivo é evitar que mais alguém se junte ao clube, criando uma base legal forte e consensual para agir rapidamente contra novos candidatos, reais ou imaginados.

Afinal, para que é que outros países (Irão) querem bombas se os que têm agora vão deixar de as ter, brevemente (mais década menos década)?

E, já agora, como é que a resolução se aplica a estados (Israel) com arsenais nucleares mas que nem para salvar a mãe de morte lenta eram capazes de confirmar ou desmentir que os têm?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Olha, uma mudança


A assembleia geral da IAEA aprovou uma resolução (não vinculativa, claro) que apela a que o estado de Israel assine o Tratado de Não Proliferação Nuclear, ratificado já por quase todos os países do mundo com e sem armas nucleares (Irão incluído).

A resolução passou com 49 votos a favor, 45 contra e 19 abstenções. Parece que muitos países do chamado Terceiro Mundo se cansaram da política de dois pesos e duas medidas do ocidente. Ou talvez não tenham recebido contrapartidas económicas suficientes para continuarem a vender o seu voto pela melhor oferta das suas antigas potências coloniais. É a crise.

Há 18 anos que Israel, os Estados Unidos e os restantes países ocidentais bloqueavam a passagem desta resolução sem dentes, não fossem os israelitas serem obrigados a reconhecer publicamente que são a única potência nuclear do Médio Oriente, com um arsenal de mais de 200 armas.

Não muda nada, mas sempre é uma mudança. E para menos mal muda-se sempre.

Conhecer o Ronaldo é fixe mas eu queria era o médico dele


Nada como o The Onion para colocar as visitas de celebridades às criancinhas doentes do hospital em perspectiva.

Israel 1 - Obama 0

Obama decidiu, discretamente, deixar de insistir no congelamento de novas construções nos colonatos israelitas da Cisjordânia.

O ministro dos negócios estrangeiros israelita foi menos discreto, anunciando a reunião de Netanyahu em Nova Iorque com Obama e um muito desapontado Mahmoud Abbas como um grande triunfo diplomático (pelo simples facto de ter ocorrido), que veio demonstrar que Israel em geral, e este governo em particular, não cede a pressões externas nem para fazer o que devia.

O presidente da mudança já percebeu, como todos os presidentes desde Carter, que há uma coisa que nunca muda na política americana para o Médio Oriente: pode-se fazer tudo menos contrariar Israel.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Boas notícias


O governo sul-africano anunciou que o número de assassinatos na África do Sul desceu 3.4% este ano: entre Abril de 2008 e Março de 2009 foram mortas apenas 18,148 pessoas.

Num país de quase 50 milhões de habitantes, são cerca de 5o homicídios por dia, ou 4 guerras do Iraque por ano, todos os anos.

Quem tem facebook tem tudo


Já viram aqueles filmes em que o KGB ou a CIA ou a Mossad apanham um tipo qualquer e o torturam para saber onde ele vive, quem são os seus amigos, quais são as suas actividades, onde é que esteve na semana passada, o que vai fazer nessa noite, quem são os seus associados ou que interesses é que ele tem.

É impressão minha ou agora temos isso tudo disponível online?

Dantes, torturava-se para obter informação. Agora, basta ir ao Facebook, ao hi5, seguir todos os rastos digitais que vamos deixando, um pouco por todo o lado.
Nem em mil novecentos e oitenta e quatro os governos sonhavam com tantas facilidades.

Torturar agora só mesmo por diversão (há quem goste de o fazer), dissuasão (há quem tenha medo que lhe façam) ou em certas populações offline, como os afegãos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Guerra Fria acabou, outra vez


O Presidente Obama informou os governos europeus de leste que os Estados Unidos vão desistir da instalação de uma cobertura anti-míssil na Polónia e Chéquia.

Segundo Bush, esta rede de mísseis protegeria a Europa de um ataque nuclear ou coisa do género vindo do Irão. Como nenhum míssil iraniano (passado, presente e, provavelmente, futuro) chega sequer aos Balcãs, ninguém soube explicar muito bem o que é que os mísseis estavam a fazer na Polónia e os radares na Chéquia: se o perigo era o Irão, não deviam ser instalados assim na Turquia ou coisa do género?

A Rússia sabia muito bem quem é que a cobertura anti-míssil servia para manter na ordem. Agora, depois de anos de arrefecimento de relações, as coisas parece que vão voltar a aquecer (de uma maneira boa).

Obama revela alguma coragem política, visto que não se safa de ser acusado pelos republicanos de capitular perante a Rússia de Putin, etc. Claro que estes, ao fazê-lo estão apenas a confirmar o que os russos sempre disseram.

Se calhar é desta que a Guerra Fria acaba de vez.


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O dia em que o mundo se convenceu que nada voltaria a ser o mesmo


Faz hoje 8 anos que o mundo deu uma volta de 360º. É por isso que o que não está um pouco pior está exactamente na mesma.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

5 milhões de escoceses respiraram de alívio



Em Kuala Lumpur, capital da malásia, há um pequeno restaurante de comida indiana chamado McCurry. Segundo os proprietários, o nome é uma abreviatura de "Malaysian Chicken Curry", um prato malaio típico.
Mas segundo a McDonald's, o nome é uma violação flagrante da sua marca registada, apesar da única semelhança ser mesmo o Mc. Depois de 8 anos de batalhas legais, o Supremo Tribunal da Malásia deu finalmente razão ao pequeno estabelecimento.
A vitória improvável do pequeno restaurante malaio sobre uma das maiores corporações do planeta anda a despertar o lado bíblico das pessoas, com comparações à fábula de David contra Golias.
Apesar de reconhecer que a McDonald's tem razão muitas vezes nos processos legais que inicia, não é preciso ser do Bloco de Esquerda para apreciar o facto de que uma das maiores corporações do mundo tentou, durante 8 longos anos, fechar um pequeno negócio familiar. E perdeu.

I'm lovin' it®.

mil novecentos e oitenta e quatro, 25 anos depois


Sou eu ou chamar "crescimento natural" à construção de novos colonatos, "técnicas de interrogação avançadas" a tortura, "danos colaterais" à morte de civis, "força de manutenção da paz" a um exército de ocupação, etc, parece-se muito com newspeak?

A democracia, enfim


Confrontada com provas crescentes de fraude eleitoral em grande escala, a comissão eleitoral afegã decidiu, este domingo, tomar medidas para que os votos irregulares não fossem contabilizados.
Segunda-feira, no entanto, quando se tornou evidente que descontar os votos fraudulentos impediria Karzai de chegar aos 50%, mudaram de ideias, poupando o presidente às indignidades de se submeter a uma segunda volta. Hamid Karzai obteve finalmente a maioria absoluta necessária para ser declarado vencedor nas eleições afegãs.
A fraude eleitoral foi tão descarada que as Nações Unidas tiveram a indelicadeza de pedir uma recontagem dos votos ao mesmo tempo que funcionários governamentais anunciavam triunfalmente os resultados.
Reconduzir um governo corrupto, impopular, incompetente e com ligações muito próximas ao narco-tráfico (o irmão do presidente é um dos sultões da droga locais) é fundamental para a estratégia americana de trazer a democracia à região. No entanto, a fraude deixa os EUA numa situação delicada: depois de toda a indignação com o roubo das eleições iranianas, com que cara é que podem continuar a declarar o seu apoio ao presidente reeleito?

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desintoxicação à mexicana


Um grupo de homens armados entrou numa clínica de reabilitação em Ciudad Juarez, mesmo na fronteira com os EUA, e deu alta definitiva a 17 dos pacientes, tendo deixado outros 3 em pior estado do que estavam antes.

Ao que parece, alguns traficantes de droga locais acusam as clínicas de protegerem traficantes de grupos rivais. Ou talvez não queiram perder clientes devido a desintoxicações bem sucedidas.

Tudo isto é só o mais recente episódio dessa novela sangrenta em que se transformou o México desde que o governo declarou guerra aos Cartéis. Em 14 meses, o número de mortos já ultrapassou os 6000, 2000 só em Ciudad Juarez (porque fica mesmo na fronteira com os EUA). O que é mais do que o número de americanos e britânicos mortos no Iraque e Afeganistão desde 2001.

A coisa boa de países como o México é que nos estão sempre a lembrar de como é bom viver em Portugal.


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

R.I.P.E


Michael Jackson morreu a 25 de Junho mas ainda não foi a enterrar.
Este estado de coisas só é possível graças à falta de noção do que é certo e errado, na sociedade em geral e na família Jackson em particular, e à invenção da cãmara frigorífica.
Jackson podia ser mais um produto fora de prazo do que uma pessoa, mas os seus restos mortais mereciam a dignidade e consideração que esta cultura de culto das celebridades em que vivemos já não parece ser capaz de encontrar.
Até a princesa Diana foi posta debaixo de sete palmos de terra mais depressa.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A luta contínua


Cerca de 6.500 veteranos de guerra americanos (da 2ª Grande Guerra às últimas) suicidam-se todos os anos. Há algo muito errado na maneira como a América trata os seus "heróis" depois de já não precisar mais deles.

ps: o número de suicídios para tropas no activo foi de 65 em 2004, 85 em 2005, 102 em 2006 e 117 em 2007. Notam um padrão? Parece que cada vez mais soldados não conseguem esperar pela reforma.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A propósito de libertar terroristas líbios com cancros terminais na próstata (o que é muito bem feito)


A única coisa que a justiça escocesa faz de mal foi ter a ousadia de ser melhor do que o mundo a preto e branco em que vivemos.

Um argumento a favor do silicone


Na Califórnia, uma modelo foi encontrada morta dentro de uma mala.
O rosto estava tão desfigurado que ela teve de ser identificada pelo número de série dos implantes de silicone. Este é mesmo um admirável mundo novo.

Balanço do Verão


As criaturas mais detestáveis que vi em Aljezur este ano (e que são mais numerosas em Aljezur a cada ano que passa) são, por ordem:
Os espanhóis que falam muito alto e todos ao mesmo tempo na minha esplanada favorita.
Os portugueses tipo pato-bravo e/ou com insuficiências sexuais que precisam de ser compensadas (ou simplemente idiotas) que passam por nós a caminho da praia a 180, numa curva, sobre o traço contínuo, com uma autocaravana a aproximar-se em sentido contrário.
Qualquer pessoa que esteja na minha praia "secreta" favorita (que nem há dois anos ainda não tinha mais pessoa nenhuma).

As ribanceiras andam a cair em cima das pessoas erradas.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Pausa para férias


Durante 3 semanas, não vai acontecer nada de mau no mundo. Pelo menos no meu.

42 dias depois


Nos 40 dias da morte de Neda, houve manifestações de luto e houve repressão policial.
Mas, como previsto, não houve mortos.
Com tanta contenção do governo, vai ser difícil mudar de regime no Irão.

Celebrar o quê?


A Espanha sofreu dois atentados bombistas em outros tantos dias. A culpa, como de costume, foi atribuída à ETA. Uma das muitas instituições geradas pelo Franquismo que continuam a dominar a política espanhola, para o bem e para o mal, a ETA deixou de ter justificação para existir há muito tempo (ao contrário da causa da independência do País Basco que diz defender).
Por que carga de água é que andam a pôr bombas outra vez? Porque a ETA foi fundada a 31 de Julho de 1959, o que perfaz 50 anos de lenta descida da legitimidade para a infãmia.
Infelizmente, e ao contrário de outras senhoras de meia idade, a ETA continua a assinalar publicamente os seus aniversários. Segundo as autoridades espanholas, os operativos da formação terrorista começaram a festejar há dois dias, com fogo de artifício e muito sangue. Mas prevê-se que o pior aconteça hoje.
O que vale é que vou de férias 3 semanas, e não quero saber se há mais explosões, se foi mesmo a ETA ou se o governo espanhol se voltou a enganar, como quando acusaram os etarras dos atentados de Madrid..

quarta-feira, 29 de julho de 2009

40 dias depois


Amanhã pode ser o dia mais significativo para o movimento de oposição iraniana. Amanhã passam 40 dias da morte de uma rapariga chamada Neda, em Teerão. 40 dias é também o período de tempo que decorre tradicionalmente depois de uma morte para a realização de um dos mais importantes rituais de luto xiitas.
Naturalmente, as manifestações de luto por Neda já foram proibidas, mas a oposição afirma que as vai fazer de qualquer maneira. O que deixa o governo com um problema: é que a revolução islâmica, em 1979, começou assim. Uma morte levava a manifestações de luto, que eram reprimidas violentamente, o que gerava novas manifestações de luto e mais repressão. Foi este ciclo de violência/luto que acabou com o regime do Xá.
As autoridades religiosas conhecem muito bem esta dinâmica, peculiarmente xiita e iraniana, porque foi ela que acabou por os colocar no poder. Amanhã só haverá sangue nas ruas se alguém tiver esquecido as lições de 79.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Duh


O Virginia Tech realizou um estudo para determinar o risco de enviar mensagens de texto enquanto se está a conduzir. A um custo de 6 milhões de dólares, instalaram cãmaras de video em camiões de longo curso durante 18 meses. Os resultados não foram surpreendentes: o risco de colisão é 23 vezes maior quando se anda a ver os sms do que quando se está a distrair de outra forma qualquer.
Os condutores desviam os olhos da estrada quase 5 segundos (de cada vez) quando estão a receber ou enviar texto. Parece pouco, mas um camião a 80km/hora percorre mais de 100 metros nesse espaço de tempo. Muita coisa pode correr mal no espaço de um campo de futebol, como todos os benfiquistas sabem. O teste foi realizado em camiões nos EUA, mas os resultados aplicam-se a condutores de SUV portugueses a fazerem reservas para o jantar enquanto negoceiam a A1 a 180km/h, com os miúdos a jogar playstation no banco de trás.

O dado mais relevante, no entanto, é saber que há tantos camionistas a mandar mensagens de texto (ao volante de monstros de várias toneladas) que justificaram que se fizesse um estudo. Devem ser as saudades de casa.
Sempre que virem um camião TIR, tenham medo: pode ser um desses artistas que são o máximo no multi-tasking. Pelo menos até entrarem por um autocarro cheio de reformados adentro.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Mind the gap


Um site com as diferenças entre nós e os outros, tanto os que estão acima como os que estão abaixo. Quando se tem acesso a uma visão do mundo baseada em factos, a nossa visão do mundo muda?

Ainda ganha o Nobel da medicina


Um estudo realizado no Zimbabué revela que a disseminação do HIV caiu dos 23 por cento da população em 2001 para 11 por cento em 2008. Diferentes fontes e métodos chegaram a resultados semelhantes.

Com 80 por cento de desemprego e uma inflação com tantos zeros que foi preciso criar notas de 100 triliões de dólares (cem milhões de milhões), o milagre médico operado pelo regime de Mugabe parece difícil de explicar.

Mas, na verdade, não passa de mais um sintoma da catástrofe económica do país.
Muito simplesmente, se os homens do Zimbabué não têm dinheiro para comer ou pagar a renda, muito menos o têm para manter amantes, sair à noite, oferecer jantares, chocolates, perfumes e outros rituais de acasalamento. Ou, quando tudo o resto falha, pagar a prostitutas.

Segundo os investigadores, a crise económica está a funcionar como uma espécie de quarentena sexual. Ou como dizem as putas na Tailândia: “no money no honey”.

Mugabe é um candidato ao Nobel da Medicina e ao Tribunal Internacional de Haia.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Globalização


Um trabalhador chinês de 25 anos suicidou-se depois de um de 16 protótipos do iPhone que estavam a seu cargo ter desaparecido.
Não se matou por excesso de zelo, no entanto. Suicidou-se depois de (aparentemente) ter sido detido e espancado pela segurança da Foxconn, uma subsidiária chinesa da Apple. O responsável pela segurança da empresa (que afirma a sua inocência) foi detido pela polícia.

A Apple lamenta o sucedido, mas não devia: as razões porque fazem telemóveis na China são as mesmas porque a Nike faz sapatilhas na Indonésia: a vida humana lá não vale grande coisa.

Seoul power



Já tinha saudades destas pequenas altercações nos parlamentos do Extremo Oriente. A Formosa tem andado muito sossegada e a Coreia do Norte, que não tem graça nenhuma, tem roubado a ribalta ao seu vizinho do sul. Nada como a tentativa de aprovação de uma nova lei para os media da Coreia do Sul para pôr deputados a aparvalhar da forma mais mediática possível. São coisas como esta que nos fazem suspirar por mais democracia no mundo.
Aqui há também uma lição de maturidade política para os políticos nacionais: porquê fazer corninhos quando se pode simplesmente andar à porrada?

terça-feira, 21 de julho de 2009

A conclusão mais lógica


Uma televisão onde os comentadores dizem às pessoas apenas o que elas querem ouvir, em nome da sua popularidade pessoal ou das audiências do programa? Inconcebível.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Mais de um ano de irrelevância


Acabo de reparar que este blog já tem mais de um ano. A velocidade a que o tempo passa nunca deixa de surpreender.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Parabéns?


Há 40 anos, o Homem estava a caminho da Lua. 40 anos depois, parece que a Humanidade não vai a mais lado nenhum. Será que já nasceu a primeira pessoa que há de ir a Marte, quem sabe, um dia? Será que voltar a pôr um astronauta ou dois na Lua (andam a falar nisso, pelo menos) é tudo o que podemos esperar num futuro mais ou menos próximo?
A celebração dos 40 anos do primeiro passo na Lua só me faz pensar como o futuro já não é mesmo o que era.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Trabalho infantil



Os exércitos de países desenvolvidos inteiramente compostos por profissionais, como o do Reino Unido, têm cada vez mais dificuldade em arranjar recrutas suficientes para manter os níveis de pessoal. O que os leva a recrutar cada vez mais cedo. Ir parar ao Afeganistão com 17 ou 18 anos é cedo de mais. Pensando melhor, ir lá parar com 30 ou 40 também.

Momentos depois



Um soldado morto por um IED (improvised explosive device) no Afeganistão é uma notícia tão frequente que às vezes nos esquecemos do que isso significa. A expressão "morreram com as botas calçadas" torna-se uma piada de mau gosto quando vemos os efeitos de um ataque com explosivos.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O inovador


Barack Obama pode ter colocado ser negro na moda. Mas décadas antes de ser branco, já Michael Jackson era negro. Muito antes de Britney Spears, já Michael Jackson usava as cuecas por cima da roupa. Anos antes dos clientes da Casa Pia, já Michael Jackson acreditava que as crianças eram o seu futuro. Anos antes do programa da mtv "I want a famous face", já Michael Jackson tinha mandado fazer uma. Anos antes da SARS e da gripe suína, já Michael jackson andava de máscara protectora.
O homem foi sempre mais interessante do que a música que fazia. Mas não de uma maneira boa.

Ouro líquido

A água vai ser um dos bens mais escassos e preciosos no futuro, mais ainda que o petróleo. Pois bem, o futuro já chegou, pelo menos para os tansos e os mais distraídos.

Hoje paguei 80 cêntimos por uma garrafa de água de 20cl. Se a gasolina fosse tão cara, um litro custaria €3.20. E já tiveram a lata de me vender uma garrafita de 20cl a €1 e 20, ou €4 e 80 o litro.

Porque é que a água engarrafada é tão cara? Porque os restaurantes sabem que as pessoas só reparam no preço do prato ou da garrafa de vinho e não ligam ao pãozinho, ao pratinho de azeitonas e à garrafinha de água. Até vir a conta, claro.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Surpresa

A CIA tinha um programa secreto para assassinar líderes da Al Qaeda. A revelação surpreendeu os congressistas americanos, até porque a lei obriga a que o Congresso seja informado de toda e qualquer actividade da CIA. Uma lei criada nos anos 70 precisamente para impedir programas de assassinato secretos.

Mas para quem já viu filmes do Chuck Norris, Steven Seagal, Sylvester Stallone, etc, surpresa seria não haver um plano qualquer do género. Metade dos filmes de acção de Hollywood são sobre operações secretas para assassinar ou capturar terroristas, traficantes de droga ou terroristas/traficantes de droga.

O programa, criado depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001, nunca foi para a frente por causa dos problemas legais e logísticos de fazer entrar tropas num pais estrangeiro para matar um tipo qualquer de turbante. Ou mais precisamente, pela dificuldade de o fazer e voltar a sair sem ser visto ou apanhado.

Descobrir preocupações com a lei internacional na administração Bush/Cheney é a verdadeira surpresa. Mas o proverbial secretismo e abuso de poder da famigerada dupla levam a pensar que o problema foi outro: encontrar alguém à altura das expectativas criadas pelos filmes do Rambo, Desaparecido em Combate, Força Delta e outras grande tretalogias do cinema de acção.

O verdadeiro programa de assassinatos não tem nada de secreto. Continua a ser aplicado, com a aprovação do novo presidente, e os seus resultados podem ser vistos quase todos os dias no telejornal.

Com nome inspirado noutro grande franchise do cinema de acção, os veículos aéreos não tripulados Predator continuam a entrar em países estrangeiros para matar um tipo qualquer de turbante (e toda a gente que estiver por perto), à distância e controlado por Rambos de computador. E fazem-no à vista de todos.


sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quantos G são demais?


O G-6 foi criado para que os países mais ricos do mundo (na altura, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália) se pudessem juntar de vez em quando para darem palmadinhas nas costas uns dos outros. Depois veio o G-7, que era os G-6 mais o Canadá, que era suficientemente rico, simpático e civilizado para fazer parte do clube. Depois, os russos quiseram entrar para o clube também (apesar de não terem dinheiro na altura, 97), com o argumento de que tinham demasiadas bombas nucleares para serem deixados à porta. Nasceu o G-7+1, que eventualmente se passou a chamar de G-8.

Mas a coisa não podia ficar por aí. Os países novos-ricos são como as pessoas: querem ser reconhecidos como membros de qualquer coisa importante e exclusiva. E não descansarão enquanto a sua candidatura não for aceite, mesmo que o clube deixe de ser exclusivo porque eles passaram a fazer parte dele.

Com outros países a baterem à porta, de PNB em crescimento na mão, os G-8 começaram a ter cada vez mais países convidados.

Um grupo (China, Índia, Brasil, México e África do Sul) passou mesmo a ser conhecido como os G-5, e a reunião dos G-8 transformou-se num mais representativo mas caótico G-8 + 5. O objectivo dos G-5 é fazerem parte dos G-8, que passariam a ser os G-13. Enquanto isso não acontece, a missão dos G-5 é sabotar as decisões dos G-8 como irrelevantes porque não os incluem.

Além destes 13, costuma haver convidados adicionais, desde países (este ano é +1, o Egipto) a organizações internacionais. E é aqui que as coisas ficam realmente absurdas, com encontros de trabalho a listar os participantes como sendo os G-8 + 5 + 1 + 5

À medida que vai crescendo o número de membros, no entanto, a força dos G vai diminuindo. Por um lado, não pode ignorar os méritos das candidaturas de países como a China , a índia ou o Brasil. Por outro, e como qualquer clube exclusivo, a influência que exerce diminui um pouco com cada novo membro que aceita.

A reunião que realmente importa hoje em dia (segundo dizem) é a dos G-20, que são os G-8 + G-5 + 6 (Argentina, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Turquia) e ainda (porque França, Reino Unido, Itália e Alemanha não era suficiente), + 1, a União Europeia. Deve ser porque é um encontro dos ministros da economia e directores de bancos centrais, em vez de Berlusconis e criaturas do género.

O único mérito do G-8 + 5 ou do G-20 é demonstrar ao mundo, com a clareza que só os números podem ter, que os G-192 (mais conhecidos por ONU) são cada vez menos relevantes.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

O degelo recomeça


Depois de um período (conhecido como "os anos Bush") de quase reatamento da guerra fria, os Estados Unidos e a Rússia anunciaram que estão a combinar diminuir a sua capacidade de destruir a humanidade num holocausto nuclear de 10 vezes para apenas 7. 
Não parece grande coisa, mas o que importa é que as pessoas que têm 95% das armas nucleares do mundo voltaram a falar uns com os outros. 
Um pouco de confiança restaurada, combinada com a continuação da destruição mútua assegurada, são as melhores garantias da continuação da paz entre as duas superpotências nucleares, que está quase a fazer 65 anos e parecia à beira da reforma apenas um ano atrás. 

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mas eles estão em todo o lado?


A China matou mais Uígures (quem?) ontem do que tibetanos antes, durante e depois das Olimpíadas. Ou que o governo do Irão em mais de uma semana de protestos. Mas não faz mal, porque os Uígures são muçulmanos e basta rotular a sua insatisfação de "fundamentalismo islâmico" para justificar qualquer repressão. 

Desde que a guerra fria acabou que os povos muçulmanos um pouco por todo o mundo perderam o direito à insurreição, um direito inalienável de todos os povos oprimidos e/ou ocupados. Em muitos casos, o único direito que tinham. 

Tal como os afegãos eram heróicos combatentes da liberdade, os uígures também seriam um povo do caraças se o papão comunista ainda estivesse vivo. O problema deles é que a implosão da União Soviética tornou necessário encontrar uma nova ameaça que justificasse as despesas militares. Como não havia país que se aproximasse do Perigo Vermelho, optou-se pelo fundamentalismo islâmico. 

A grande vantagem do novo inimigo é que não pode ser derrotado mas não representa uma verdadeira ameaça. A guerra contra o terror (uma frase brilhante) só precisa de acabar quando já não for necessária. Ou quando aparecer um inimigo novo. Que tal os chineses? Não, que são nossos aliados na guerra contra o terror. E depois, têm bombas atómicas e dinheiro e as coisas podiam tornar-se sérias.

O Islão é o novo bicho papão do ocidente. As ditaduras de todo o mundo agradecem. 

quinta-feira, 2 de julho de 2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Abaixo o presidente Zelaya, viva o general Vásquez


Desde 1983 que não acontecia um golpe de estado na América central.
O exército das Honduras pegou no presidente, enfiou-o, ainda em pijama, num avião para a Costa Rica e apresentou ao Congresso do país uma carta de demissão, que o presidente raptado afirma não ter escrito. 

Ao bom estilo latino-americano, Zelaya queria mudar a constituição para acabar com o limite nos números de mandatos do presidente. O referendo para mudar a lei foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal das Honduras. O presidente não quis saber e pediu a ajuda das forças armadas para prosseguir com o referendo. Quando o exército se recusou a ajudar, o presidente demitiu o comandante, o general Vásquez. O Supremo Tribunal disse que a demissão era ilegal e reinstituiu o general. O general, possivelmente ainda irritado, mandou meter o presidente num avião.  Ou coisa do género. Obama já disse que os Estados Unidos não têm culpa. Hugo Chávez já disse que a culpa é dos gringos.

Nada pode ser mais reconfortante numa segunda feira chuvosa do que descobrir que ainda há uma república das bananas. E que temos a sorte de não viver lá.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Quem era este rapaz cheio de talento?



Uma recordação de quando ele estava vivo. Em mais do que um sentido.

Logo agora?


O auto intitulado rei do pop morreu, aos cinquenta anos de idade, alcançando assim o seu muito publicitado objectivo de nunca envelhecer e roubando ao mundo o espectáculo de feira em que se tinha tornado a sua vida.

Com 24 horas de rigorosos exclusivos e tributos emocionados para transmitir, coisas como a oposição iraniana aos resultados das eleições e a sua crescentemente eficaz repressão passaram de imediato para segundo plano, num fenómeno conhecido como o efeito O.J. Simpson.

Quando acordaram hoje de manhã e viram as notícias, os Guardiões da Revolução puderam ver na CNN como Alá é grande e está mesmo do seu lado.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Uma imagem vale mais que mil palavras



Especialmente quando dá um sentido completamente novo a uma frase completa. 

sexta-feira, 19 de junho de 2009

À espera da pancada


Mais cedo ou mais tarde, o estado iraniano vai perder a paciência e contenção que tem demonstrado (notável para um regime autoritário) e colocar um ponto final nas demonstrações de rua, prender os reformistas, fechar os jornais e dar rédea solta às milícias Basijis. 
Ou declarar que o seu supremo líder é falível, que o seu presidente eleito não tem legitimidade, que a república islãmica tentou roubar a cidadania aos seus cidadãos e que é preciso realizar novas eleições. 
A opção entre um regime abertamente opressivo e uma mudança (limitada, de conservadores para reformistas) no regime está a ser feita. E não vai poder demorar muito mais.

A culpa disto tudo é do Obama. 
Quando confrontados de súbito com um presidente americano aberto ao diálogo (e que só mesmo um republicano sulista consegue odiar), os Guardiões da Revolução viram a justificação da sua continuada existência (a resistência ao Grande Satã) desaparecer. 
Obama tem o condão de provocar mudança mesmo sem fazer nada. Infelizmente, nem sempre a mudança vai ser para melhor.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Como é que ele se atreve?


Custa-me muito a admitir mas estou de acordo com o Presidente Cavaco Silva no que respeita ao TGV. Já nem os ódios de estimação são de confiança.

Aulas práticas

O Irão está a dar uma valiosa lição de democracia a todas as teocracias/ditaduras do Médio Oriente (que é toda a gente da região menos Israel, que é uma teocracia/democracia; o Iraque, que ainda não é nada; o Egipto e a Síria, que são simplesmente ditaduras; e o Líbano que é uma confusão). 

E a lição que os governos locais estão a aprender é que permitir a democracia, até numa forma limitada, é perigoso para a classe dominante. Mesmo quando os resultados são determinados antes das eleições.

Com o exemplo prático do Irão mesmo ao lado, não contemos que Arábia Saudita, Egipto e outros aliados do Ocidente caiam tão cedo na asneira de permitir que a sua população se faça ouvir.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Amadores: bastava 50% mais um


A facção conservadora do regime iraniano não quis, simplesmente, derrotar a ala reformista. Com a vitória por dois terços dos votos do seu candidato, o presidente Ahmadinejad, procuraram colocar um prego final no caixão do pensamento reformista iraniano. Mas cometeram o erro de levar longe demais a manipulação dos números. 

A democracia iraniana não tem ainda a maturidade, por exemplo, da americana: não dominam a arte de roubar eleições na secretaria, com a subtileza e os resultados à justa que são indispensáveis para desarmar a oposição. 

Até é possível que Ahmadinejad tenha obtido mais votos que os outros candidatos - as suas políticas podem torná-lo impopular junto da classe média, mas continua a ser extremamente popular junto das classes mais desfavorecidas (que são muito mais numerosas no Irão que a dita classe média). 
Mas não teve certamente o resultado anunciado de 63% dos votos, que dispensa uma segunda volta. 

Agora, o homem que realmente manda no país, o supremo líder Khamenei, voltou atrás na sua prematura aprovação dos resultados e anunciou que o Conselho dos Guardiões vai investigar irregularidades nas eleições, um processo que pode levar 10 dias. 

O resultado da investigação tanto pode ser uma confirmação da vitória de Ahmadinejad, com números mais fáceis de engolir, como a realização de uma segunda volta. Mas o verdadeiro momento histórico já aconteceu: os aiátolas viram o povo sair à rua, em números quase tão grandes como os das manifestações de 1979 que os levaram ao poder. E ficaram com medo.

p.s. segundo um amigo britânico que tem um amigo iraniano que tem as suas fontes no departamento de assuntos internos do Irão, os verdadeiros resultados das eleições foram os seguintes: o candidato reformista, Moussavi, teve 19,075,623 votos, o outro candidato reformista, Karroubi, 13,387,104 votos, o presidente Ahmadinejad 5,698,417 votos e o quarto candidato, o também conservador Rezaei, 3,754,218 votos.
A verdade deve estar algures no meio, como de costume.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quanto é 31.69% de 37.03%?


A resposta é que muito pouca gente se deu ao trabalho de votar no partido mais votado em Portugal. Menos ainda do que a média europeia, de 42.94%. 
A abstenção voltou assim a obter uma maioria esmagadora nas eleições europeias, com  a fatia do eleitorado que fez a escolha de não escolher a ser superior à de todas as outras formações políticas juntas. 
É o melhor resultado de sempre para os desinteressados europeus, uma força que tem crescido de forma imparável desde que o voto se tornou livremente disponível e, portanto, extremamente desinteressante. 
Outros países não têm a nossa sorte. São países onde os diferentes partidos, ou os partidos únicos, continuam a receber a maioria dos votos (muitas vezes em número superior ao dos eleitores inscritos). Há mesmo sítios onde ainda se mata e se é morto pelo direito de votar, como na Europa de antigamente, países onde votar continua a ser um direito negado ou severamente restringido pelos respectivos governos. Na Europa de hoje, e apesar da maior crise económica das últimas décadas, os governos gastaram milhões só a tentar convencer as pessoas a votar, em quem quer que fosse. Mas já não vale a pena dizer que é um direito (duh), e nunca valeu a pena dizer que era um dever. 
O triunfo da democracia é este: deixar a maioria as pessoas indiferentes a quem as governa. Para os mais idealistas, esta falta de interesse é perigosa para a aspiração de criar uma Europa unida e próspera. Mas para os políticos que mandam na europa, quanto mais desinteresse melhor: como os povos são intrinsecamente bairristas (especialmente em épocas de crise, como revela a subida generalizada da extrema direita), construir uma Europa unida só é possível à revelia de um eleitorado adormecido. 
Não é por acaso que o Tratado de Lisboa só foi posto em causa na Irlanda e apenas porque a lei local obrigava à realização de um referendo. E não é por acaso que todos os políticos europeus vieram a público condenar essa aberração irlandesa de deixar as pessoas determinarem o seu próprio destino.
Um dia, havemos todos de acordar e perceber que o "sonho" europeu se tornou uma realidade e que o nosso voto, afinal, deixou mesmo de ter importância. Então, será preciso nada menos do que uma revolução para lhe escapar, com pessoas a matar e a morrer pelos seus direitos e tudo, como ainda se faz lá fora. Até lá, continuemos todos a dormir.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

E agora, fazer qualquer coisa


No discurso mais importante, até agora, da sua presidência, Barack Obama falou dos problemas entre o ocidente e o mundo muçulmano sem usar a palavra terrorismo uma única vez. Reconheceu erros. Aceitou que os palestinianos fazem parte da espécie humana e que o seu sofrimento de 60 anos é intolerável. Disse que queria falar com o Irão, sem ameaças directas ou veladas e sem condições. Admitiu que o Hamas não pode ser ignorado e representa uma parte significativa do povo palestiniano. Criticou o estado dos direitos da mulher e dos cristãos coptas no Egipto, o país/ditadura anfitrião do discurso. Reiterou o seu apoio incondicional a Israel, mas afirmou que a Palestina também existe e também tem direito a ser um estado soberano. Disse que os colonatos israelitas são ilegais. Identificou o extremismo religioso como um inimigo comum de americanos e árabes. Não convenceu toda a gente, mas não podia ter marcado uma diferença maior nas palavras e na atitude em relação ao seu truculento antecessor.
Claro que palavras, só, não mudam nada. Mas um sorriso de Obama é mais perigoso para a Al-Qaeda do que todas as bombas lançadas durante os anos Bush.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Bada-bing


A Microsoft lançou um novo browser chamado Bing. Se quiserem saber do que se trata, é só ir ao Google.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Uma outra maneira de fazer as contas


Coreia do Norte rebenta 40 anos de Produto Nacional Bruto em novo teste nuclear. No The Onion.

O Obama já perdeu a graça


Prisão preventiva.
Da União Soviética à China comunista, da Alemanha Nazi à Itália fascista, da Espanha franquista ao Portugal salazarista, todas as ditaduras, das piores às menos más, recorreram e recorrem a esta prática para se livrarem de opositores políticos, etnias de segunda ou ideias de terceiros.

Prender alguém preventivamente é prender alguém que não fez nada a não ser pensar. Naturalmente, se ele tem pensamentos, o Estado pensa que ele vai fazer qualquer coisa, mais cedo ou mais tarde. Porque as ditaduras sabem muito bem que não prestam e, como só sabem governar pelo medo, vivem no terror do que os governados possam fazer.
Mas pensar só devia ser crime em regimes autoritários e literatura distópica (ok, não devia ser crime em lado nenhum).

Entra o homem da mudança, Barack Obama.
Segundo o seu plano de “detenção preventiva” (prisão é uma palavra demasiado forte?), se um agente da autoridade suspeitar que alguém pode vir a cometer um crime, um dia, essa pessoa pode ser submetida a uma detenção prolongada. Isto é, prisão preventiva por tempo indefinido, à revelia de tudo o que faz o sistema de justiça ocidental melhor que os sistemas de justiça dos outros.
Claro que a ressalva é que a lei só se aplica a terroristas islâmicos. Ah pronto, então está bem. Se um moço deixa crescer a barba e vai muito à mesquita, está mesmo a pedi-las.

Qual é o argumento por trás desta política? Como os suspeitos de terrorismo não podem ser julgados, os Estados Unidos vêem-se forçados a mantê-los presos indefinidamente. E porque é que os presos de Guantanamo e muitos outros locais (e os mais presos que hão-de vir com esta nova lei) não podem ser julgados? Porque não podem ser condenados. E não podem ser condenados porque não há quaisquer provas contra eles e teriam de ser libertados.
É mais uma coisa parecida com as ditaduras: Obama, como Bush antes dele, só que levar gente a tribunal quando sabe à partida que vai ter o veredicto que deseja.

Obama prometeu mudança? Sim, mas não prometeu que era para melhor.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O olhar vigilante da justiça? É uma burle


Estive a manhã toda a testemunhar a falta de celeridade da justiça portuguesa e descobri um facto fascinante: a marca das câmaras de vigilância é Burle. Este incentivo não será contraproducente, dadas as inclinações naturais da maior parte dos visitantes e de algumas pessoas que trabalham lá? 
E quem são todas aquelas pessoas a vaguear pelos corredores com a capa do Batman nos ombros?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

MusicTV?

A double shot at love. Vikki e Nikki são duas irmãs gémeas bissexuais que procuram o verdadeiro amor. As “ikki twins” são modelos mas , bem lá no fundo, não passam de raparigas modestas da província. Pelo menos segundo as próprias. Como é que elas vão encontrar o verdadeiro amor das suas vidas? Juntando um grupo de atrasados mentais para um pouco de badalhoquice virtual. A fórmula já existia, com A shot at love with Tila Tequila, que também é bissexual e também acha que um concurso é uma boa maneira de encontrar o verdadeiro amor. O facto de já ir na segunda série talvez queira dizer qualquer coisa? E depois há o That’s amore, que é o mesmo tipo de lixo mas o objecto em disputa é um rapaz de sotaque italiano carregado que, de forma refrescante, gosta apenas de gajas. E há o Next, que consiste em juntar 5 rapazes (ou 5 raparigas ou 5 rapazes homossexuais ou 5 raparigas lésbicas) num autocarro, para serem seleccionados  por uma pessoa do sexo oposto,(ou, como vimos acima, do mesmo). Um a um, vão saindo do autocarro para ganhar 1 dólar por cada minuto de encontro, o que os torna nas putas mais mal pagas do mercado. O feliz vencedor(a) escolhe ficar com o dinheiro ou ter um segundo encontro com a criatura que o escolheu. E há o Date my mom, onde um rapaz sai com as mães de 3 raparigas para decidir com qual é que vai ter um encontro romântico, o único sítio onde podemos ver uma mãe dizer “Vais gostar da minha filha, ela tem as mamas grandes”. E há o Room raiders, uma espécie de Date my mom mas com vistoria dos quartos, que um rapaz ou rapariga examina cuidadosamente (procurando em especial coisas tipo manchas de sémen na cama, com umas luzes tipo CSI) para seleccionar o atrasado mental com que vai sair. E há o Parental control, onde pai e mãe não suportam o namorado da(o) filha(o) e tentam encontrar uma alternativa mais do seu agrado. Às vezes, a o filho(a) troca de namorada(o) no fim do programa. E há o I want a famous face, onde jovens se submetem a cirurgia plástica para ficarem parecidos com os seus ídolos (como a Britney Spears), quase sempre com o apoio entusiástico dos amigos e familiares, que também gostam de aparecer na televisão.

A lista continua.

Como é que o Jackass se tornou no programa de entretenimento mais inteligente, saudável e responsável da MTV? Como é que o canal de música degenerou no pior lixo que se vê na televisão actual, incluindo certos canais codificados?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Inglaterra ainda rula


Ao ver os escândalos com as despesas dos membros do parlamento em Inglaterra, ficamos reconfortados com o conhecimento de que os políticos são mais ou menos iguais em todo o lado. Até a malta do "isto só mesmo em Portugal" é forçada a admitir, de vez em quando, que não são só os nossos que são corruptos. É um mal universal, não apenas porque o poder corrompe, como se costuma dizer, mas porque o poder atrai os corruptos.

O que me incomoda nesta história não são os escândalos, no entanto. 

O que me enerva mesmo é ver os media britânicos a publicar as contas dos políticos, para que todos os eleitores as possam ver. O que mexe comigo é o espectáculo de ver dirigentes a obrigar os membros do seu partido a devolverem o dinheiro que apropriaram indevidamente, é ver carreiras a acabar de um dia para o outro, é ver gente a demitir-se em desgraça, é ver medidas reais a serem tomadas para acabar com os abusos. E enerva porque cá as coisas não se passam assim. 

Políticos corruptos expostos nos media, demitidos, forçados a devolver dinheiro? 
"Isto só mesmo lá fora."

terça-feira, 19 de maio de 2009

Qual é o teu coeficiente de inteligência?


Hoje fiz um teste ao IQ no Facebook, para confirmar a minha excelente opinião de mim mesmo e porque não tinha nada que fazer naquele momento. 

Depois de algumas perguntas de resposta múltipla de grande complexidade (como: Qual destes países não é europeu? Luxemburgo, Espanha, Áustria ou Iémem), cheguei às perguntas que revelam realmente o IQ: qual é o meu sexo, idade, e operador e número de telemóvel. 

Cancelei o teste de imediato, obtendo a nota máxima possível.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

What's that noise?



Ontem fui ver o novo filme do Star Trek e descobri, com alguma satisfação, que  se continua a ouvir Beastie Boys no século 23.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

De pequenino se torce o menino



Nos Estados Unidos, os escuteiros têm uma variante chamada Explorer Scouts. Mas estes escuteiros não estão a aprender que se deve ajudar velhinhas a atravessar a estrada: quando não estão a disparar com armas de brincar contra pessoas de tez morena com toalhas enroladas na cabeça, aprendem a impedir mexicanos de atravessar a fronteira. 

Antigamente, os Explorer Scouts davam formação a adolescentes para coisas como polícia e bombeiro. Mas agora que o mundo mudou, ao que parece, e há uma guerra contra o terror (que, por definição, só acaba quando um homem quiser), as autoridades competentes acharam por bem começar a treinar os miúdos em contra-terrorismo e contra-mexicanismo.

Os putos adoram, naturalmente, porque também os deixam brincar com armas verdadeiras.

Faria lembrar aquelas coisas da Mocidade Portuguesa, se esta tivesse sido uma coisa mais à séria. Assim como é, só me faz pensar na Juventude Hitleriana. Os nazis também acreditavam que para fazer um bom soldado era melhor começar cedo. O que era válido para um futuro membro das SS continua a ser válido para um futuro protector da democracia? Parece que sim.
Agora que penso nisso, os senhores da guerra em África seguem exactamente a mesma filosofia. 
Estes putos não deviam andar atrás de raparigas e a fazer parvoíces em vez de brincarem ao S.W.A.T.? Eles não sabem que daqui a uns anos vão estar a camimho do outro Swat, o dos talibãs, a pensar no que aconteceu à sua juventude?